quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SPFW BOA IDEIA dia 2: jogo de proporção para rejuvenecer peças-vovó, calças de palhinha e étnica, neobotas de motoqueiro, barra da anágua à mostra (1)

Reinaldo Lourenço, inverno 2010



Reinaldo Lourenço, inverno 2010



Maria Bonita, inverno 2010



Alexandre Herchcovitch, inverno 2010



Alexandre Herchcovitch, inverno 2010



Maria Garcia, inverno 2010



Maria Garcia, inverno 2010

Quando a vida exige que você mantenha a ordem e os bons costumes e seu espírito rebelde, bem, insiste em se rebelar, nada como adotar o figurino comme il faut, mas perturbá-lo de alguma forma. É o caso da ideia de Reinaldo Lourenço: desconcertar peças tidas como passé – ou difíceis –, mas de elegância incontestável.

1) longuete: que fazer com um comprimento que todos condenam por cortar a silhueta num lugar que deixa até as altas baixinhas, que traz algo de pudico e conservador costurado na bainha? Legging-bailarina faz o favor de tirar o ar senhorinha do vestido.

2) tailleur: fazer a dupla com saia micro já é feijão-com-arroz. O jeito é brincar com as proporções entre sapato e meia. Neste caso, botas de cano médio, também condenadas como inimigas da silhueta, e meias 7/8. Quem há de chamá-la de "senhora"?

Usar palhinha do décor tão típico dos 19 no Brasil não é novo (Furstenberg fez, Anya Hindmarch, a moça que detonou a obsessão das sacolas de compra, fez na coleção inspirada no Brasil. E Glorinha Paranaguá reina soberana). Mas o uso em calças de inverno parece mais do que apropriado para o Brasil do 21. Funcional.

Ah, sim, Antonio Bernardo emprestou as joias para o desfile da Maria Bonita, num casamento perfeito entre estéticas cariocas pós-hippie/pós-sensualidade barata - uma espécie de Rio depurado. Passarelas nacionais costumam ser muito pobres de joias e esta é uma ideia que merece entrar mais na pauta dos designers de ambos os lados. Cresce a roupa e a passarela se aproxima das mulheres reais não no jeito banal da ditadura das vendas - vulgo "moda comercial" que, na verdade, deveria ser chamada simplesmente de "roupa" - mas no sentido de fazer mais sentido para a vida (afinal, é para mudar comportamentos reais que a (boa) moda também existe, sim?). No verão americano, a Cartier emprestou várias peças para estilistas "emergentes", uma ideia em comemoração dos 100 anos de presença nos Estados Unidos.

Outra ideia libertadora para as calças é a estampa istambul. A ideia transforma uma peça que é essencialmente prática em decorativa. A vida, de fato, não precisa ser um tédio. Alexandre Herchcovitch oferece ainda uma nova bota motoqueiro, uma evolução da espécie oxford de bico redondinho que ele vem apresentando. Viva Darwin!

Por fim, uma quase bobagem (no sentido "ovo de Colombo" da palavra) direto da passarela da Maria Garcia (Camila Cutolo/ Clô Orozco): mostrar a barra da anágua rendada e, no caso do look bicolor, do chemisier sob minissaia.

2 comentários:

Carol Domingues disse...

Maravilhoso esse post. Aprendi horrores com ele. Parabéns.

Bjosss

andreza felix disse...

palhinha é uma coisa tão nossa, brasileira. tinha muito nas casas das minhas avós. faz todo sentido mesmo ter na roupa.
bjos