Agora que Londres voltou a ter relevância (ufa!) nas passarelas (em oposição a apenas nas ruas), eu encontrei isso em Alberto Savarus, uma das novelas de Balzac - que, junto com Proust, dá relevância à moda como personagem de um tempo.
Adoraria saber o que ele(s) escreveria(m) agora.
Paris, maio de 1842.
"Em todos os tempos, a França e a Inglaterra têm feito uma troca de futilidades, tanto mais seguida, porque escapa à tirania das alfândegas. A moda que em Paris chamamos de inglesa é em Londres chamada francesa, e reciprocamente. A inimizade dos dois povos cessa em dois pontos: na questão das palavras e na do vestuário.
God Save the King, o hino nacional da Inglaterra, é uma música feita por Lulli para os coros de Esther ou de Athalie*. As anquinhas, trazidas por uma inglesa para Paris, foram inventadas em Londres, conhece-se o motivo, por uma francesa, a famosa Duquesa de Portsmouth**; começaram por provocar tal zombaria que a primeira inglesa que assim apareceu nas Tulherias escapou de ser esmagada na multidão, mas as anquinhas foram adotadas. Essa moda tiranizou as mulheres da Europa por meio século. Na paz de 1815, gracejou-se durante um ano da cintura baixa das inglesas. Paris em peso foi ver Pothier e Brunet em Les Anglaises pour rire***; mas, em 1816 e 1817, a cintura das francesas, que em 1814 lhes cortava os seios, desceu gradativamente até lhes delinear as cadeiras."
*Lulli, compositor italiano, diretor da Academia Real de Música em Paris – e esther e Athalie, tragédias de Racine.
**Louise-Renée de Panancoët de Kéroal (1649-1734), favorita de Carlos II, da Inglaterra.
*** comediantes do vaudeville de Servin e Dumersan.
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2 comentários:
victor hugo em "Les miseràbles" também desenha a moda de um tempo de revolução,né sissi?
Tão bom ver a coisa de um estado contextual, vivo. continua a coisa mais fina essa blog, viu...
Ótimo post. Viva Londres!!!
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