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domingo, 30 de novembro de 2008

Clássicos dos clássicos


Bianca Jagger, 1972


Minha irmã acabou de sair aqui de casa com um leve bico porque não consegui compartilhar com ela o entusiasmo por um par de gladiadoras estilizadas Forum, geneticamente modificadas. "Chata", ela disse. E mudou de assunto.

Então eu tirei o meu pulso.

Normal.

E a minha temperatura.

Idem.

Posso dizer que a vida (modal) anda sem palpitações. Sem taquicardia para comprar uma coisinha(ona) nova. Eu já falei sobre isso em dois momentos aqui - mas, confesso, a 'doença' vem se agravando.

O tempo vai passando e a minha lista de compras vai ficando cada vez mais atemporal - o que significa que pode ficar para depois do mesmo jeito que poderia ser para ontem. Ao paletó Margiela (para desgosto da Loulou, ainda assim minha amiga fiel), acrescentei uma camisa Pucci.

Só consigo pensar em clássicos, não necessariamente assinados - mas puro sangue na modelagem.

Assim, boas compras a qualquer tempo:

1. CAMISETA BRANCA: impressionante como uma coisa tão simples pode ser tão complicada de encontrar. Não me interessam as de gola redonda, canoa - ou qualquer modelo intercambiável entre meninos e meninas. A tee perfeita é bem fininha, quase com aparência de muito batida (como cashmere extrafino), decote V aberto, mangas japonesas, soltinha. Coisa de mulher, não vitrine de músculos Marlon Brando. Uma amiga encontrou uma perfeita assim na H&M, prova de que o sol nasceu para todos. Eu ainda vou encontrar a minha. Se alguém achar, me avise.

2. CARDIGÃ: escrever masculinos seria redundante, mas, sim, masculinos para não serem confundidos com a metade casaquinho do twin set. Eu já tenho quatro, com lãs de gramaturas (?) e texturas diferentes. Sempre em cores de homem com H. Funcionam sobre tudo, sobretudo para desconcertar o mundo certinho.

3. CALÇAS LARGAS DE ALFAIATARIA: no plural mesmo! Preta, marinho, cinza, areia, preta com risca-de-giz branca, branca com risca-de-giz preta, cinza com risca-de-giz preta, preta com risca-de-giz cinza, espinha-de-peixe, príncipe-de-Gales ... Nunca é demais, é sempre de-mais!

4. TUBINHO: o mínimo em termos de vestido, em todos os sentidos da palavra mínimo. É o mometo Jackie O da vida, que ainda não envelheceu depois de quatro décadas. (vou tentar um versão preto de veludo alemão)

5. SMOKING: quanto mais eu penso em YSL mais me choca a revolução. O black-tie masculino tem um século de 'reinança' e nada mais moderno do que a companhia dele à noite, para dar descanso ao vestidão. Estou para ver os namorados que topem numa boa. Tem que ser muito homem para entrar de braços dados com uma garota de smoking. Vá de YSL, preto com camisa branca. Banque Bianca Jagger, toda de branco ou de branco com camisa preta, mais Capone/malandro.

6. CASAQUETO DE TWEED: Não precisa ser Chanel, mas, se for, considere como uma jóia de família (porque o show vai continuar). Pied-de-poule (ou de-coq) preto e branco e a vida segue, fina, em frente.

7. TRENCH COAT: meus deuses, tem coisa que se prove mais prática nesses tempos úmidos? (lembre-se: acima dos joelhos é mais fresco em todos os sentidos).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AQUI TEM bracelete à Verdura


Braceletes Cruz de Malta de esmalte e pedras, Fulco di Verdura para Chanel, 1937.



Bracelete de turquesa e banhado a ouro, José & Maria Barreras, 640 dólares (Neiman Marcus).



Bracelete de prata, mosaico de madrepérolas, druza e quartzo fumê, Camila Sarpi para Isabella Giobbi, 1 530 reais.


Deve ser a chegada do calor. Mas joalheiros daqui e de lá estão pondo as manguinhas de fora e criando os braceletes mais desejáveis de muitas temporadas: vistosos, presentes, definitivos e definidores dos looks, de metal e pedras.

Tem a ver com o retorno do déco, da déco e do decoro no look. Se você puder colocar os olhos nas memórias de Fulco Santostefano della Cerda, Duque of Verdura - The Happy Summer Days - o mundo todo vai fazer sentido.

Ditada em 1976, as memórias deixam claro como a infância passada sob o sol da Sicília moldou o gosto de Fulco di Verdura, parceiro (criativo) de Coco Chanel a partir de 1927.

(Alugue "O Leopardo", baseado no livro de Giuseppe di Lampedusa, primo de Verdura, para entender o cenário e a família aristocrática e excêntrica de ambos.)

Pedras grandes, o barroco, paixão pelo ouro, gosto pela natureza, o sofisticado de braços dados com o primitivo - tudo isso fazia parte do repertório desse joalheiro por acaso, nascido em Palermo, 1898.

Nada no seu estilo combinava com a moda da 'jóia branca' - platina + diamantes - da época.

Foi o que bastou para Chanel cair de amores pelo seu desenho. Chanel, é sabidíssimo, não acreditava no valor de commodity da jóia. Dizia que, se era para ostentar o poder de compra, melhor logo usar um cheque pendurado no pescoço.

As peças de Verdura eram a anticommodity. Fauna, flora, materiais pouco usados (Verdura se orgulhava de dizer que tinha poder de transformar uma conchinha banal em pedra preciosa) eram colocados juntos segundo um conhecimento enciclopédico de história da arte.

Sob medida para Chanel, cujas costume jewelry não raro saíam direto de retratos de mulheres pintadas no século 16. Ou antes, do Império Bizantino - fonte principal de inspiração para as peças feitas por Robert Goossens para ela.

O encontro dos dois não é História com h maiúsculo. Há duas versões. A primeira diz que eles se conheceram nos salões do Palazzo Rezzonico, em Veneza, numa festa oferecida por Linda e Cole Porter, 1925. Outra, mais excêntrica e publicada pela New Yorker em 1941, diz que ele torrou o dinheiro da herança numa festa que durou uma semana na Sicília e depois num baile temático de Lady Hamilton. Em seguida, foi para Paris trabalhar com Chanel.

Primeiro, como designer têxtil.

Depois, como joalheiro. Para a clientela da rue Cambon e em benefício próprio: Verdura ficou encarregado de dar cara nova para peças que ela recebeu dos amantes ao longo dos romances.

Em 1935, já estabelecido em Nova York, Verdura criou a peça mais icônica da dupla: o bracelete de esmalte com pedras dispostas na forma da Cruz de Malta. O primeiro exemplar foi feito com a Cruz que Dmitri, o último representante da família Romanov e amante de Chanel, deu a ela.

Há quem diga também que a Cruz de Malta é uma das memórias mais antigas de Chanel, da época em que viveu num orfanato/convento.

Mutas versões do bracelete vieram depois (até dourada), até Verdura abrir uma loja própria em 1937 e a parceria terminar.

Em 1941, Salvador Dalí e ele trabalharam juntos numa coleção de jóias. Ele criou as abotoaduras Night and Day para Porter, inspirada numa de suas canções mais conhecidas. Em The Philadelphia Story, Katherine Hepburn interpreta uma socialite cujo porta-jóia é forrado de Verdura.

Verdura morreu em 1978. Continua à venda - inclusive uma das versões do bracelete Cruz de Malta.

É o parceiro perfeito para as mangas curtas, mangas 3/4 (Balenciaga as inventou com esse propósito, o de as clientes exibirem seus braceletes) e, sim, sobre mangas compridas.

Mas o melhor é usar em total simetria como faz Camila Sarpi - um de cada lado e uma atitude bem art déco. Nenhum camiseta H&M vai fazer feio à mesa dos melhores restôs se você levantar os punhos na frente dela. Bem fresco, bem verão - ainda que não seja num jardim barroco siciliano!

(inside joke, mas verdadeiro...)



De curiosidade:


Colar de ametistas e águas-marinhas brasileiras, Fulco di Verdura para Bernice McIlhenny Winterstee, 1969.

Em maio desse ano, a casa de leilão inglesa Bonhams (1793!) colocou à venda (entre 40 mil e 60 mil libras esterlinas) o colar de ametistas e águas-marinhas feito por Verdura a pedido de Bernice McIlhenny Winterstee, colecionadora de arte moderna e primeia mulher a presidir o Museu de Arte da Filadélfia (1964-1968).

Bernice comprou as pedras numa das muitas visitas ao Brasil e deu a Verdura para que fizesse mais uma peças - ela adorava entreter os amigos em jantares, sempre usando peças douradas, grandes e com pedras coloridas.


Leia também, além das memórias: Verdura: The Life and Works of a Master Jeweler, Patricia Corbett (Thames & Hudson, 2002 e 2008).

sexta-feira, 4 de julho de 2008

É UM CLÁSSICO! 2.55 Chanel

(know better, buy better - é com essa singela filosofia, em homenagem à même, que eu vou justificar a vontade humana de ter uma 2.55, uma birkin, um trinity, una vara - a partir deste post)


a dispensável legenda para a indispensável Bolsa (com 'b' maiúsculo mesmo)



Chloë Sevigny: 2.55 na festa da Cartier, em Los Angeles, no dia 18 de junho

Foi em fevereiro de 1955 que Gabrielle Chanel deixou definitivamente livres as mãos enluvadas das senhoritas da era cinqüentinha. Cansada de carregar e perder as próprias bolsas, Chanel encontrou um modelo definitivo para uma idéia velha de guerra, literalmente: a bolsa a tiracolo. A primeira versão de Mademoiselle é de 1929, inspirada nas bolsas dos soldados e das mensageiras que cruzavam Paris de bicicleta. Mas só em 02 de 1955 - daí o nome 2.55 - Chanel chegou ao modelo ideal: um retângulo de 15x24x7.5 cm, preso a uma alça de corrente dourada entrelaçada a tiras de couro ou em elos achatados (semelhantes aos que Mademoiselle utilizava na barra dos blazeres para garantir o caimento perfeito do tecido), feito de pelica para o dia e de seda ou jérsei para a noite. Para encorpá-la, Chanel tirou a idéia da costura em forma de diamante, o matelassê, dos casacos dos jóqueis e das almofadas de camurça do seu apartamento na Rua Cambon. Por dentro, o forro bordô remetia ao uniforme usado por ela no orfanato. Bolso fechado a zíper foi pensado para cartas secretas de amor e extratos bancários; um compartimento tubular previa espaço para o batom. Com o modelo a tiracolo, as mulheres deram adeus às bolsas de mão e aplaudiram mais uma invenção prática e chic de Chanel.

Quando Karl Lagerfeld assumiu a maison em 1983, levou ao pé da letra o aforismo de um dos seus autores de cabeceira: "Build a better future by expanding on elements of the past", Goethe. Largerfeld aumentou as dimensões da 2.55 a medidas gigantes e a liliputianas, experimentou com jeans, ráfia, tweed, expandiu as cores para um pantone completo e agora vem mudando a costura de diamante por idéias como o quebra-cabeça. Hoje, são produzidos 30 modelos diferentes por ano num ateliê a 70 km de Paris. Entre 6 e 15 artesãos estão envolvidos nos 180 estágios de produção de uma peça, que leva até 18 horas para ficar pronta dependendo do material. 50% delas ainda são feitas em preto, em diferentes modelos e tamanhos. No arquivo do ateliê, moram 3 mil modelos - o suficiente para você usar uma 2.55 diferente por dia por mais de oito anos. Em 2008, a 2.55 inspirou artistas do mundo inteiro em reinterpretações expostas no mostra inaugural do museu itinerante da marca, o Chanel Pavillion - Mobile Art Contemporary Container. Veja mais fotos aqui.