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terça-feira, 5 de abril de 2011

Louis Vuitton, original de Asnière

Na semana passada, estive no ateliê da Louis Vuitton, em Asnière, um pouquinho para o norte de Paris.

Fui visitar onde são feitas a mão as malas rígidas e as bolsas de couro "precioso" (como diferenciar crocodilo de jacaré? crocodilos têm uma pinta em cada quadrado da escama...). Foi ali que Louis Vuitton, o original, começou a fazer sua história.

E essa é a casa onde morou - depois ocupada pelo filho George que, por sua vez, deixou para sua mulher, Josephine, que viveu ali até morrer, nos anos 1960, com mais de 100 anos. A decoração nouveau é original e um chouchou!





A lareira de cerâmica esmaltada


E o chazinho com petit four et plus

domingo, 12 de dezembro de 2010

René Gruau e a ilustração de moda

Pode ser a recente onda 50s na moda. Mas René Gruau, conde-ilustrador a quem se pode creditar a imagem clássica do new look, faz sentido hoje como fez ontem, quando seu traço elegante, sinuoso e mínimo (com saturação irresistível de cores) deu graça às principais revistas de moda do mundo, à publicidade (dos perfumes Dior a biscoitos) e às capas da International Textiles, uma revista do métier, por quatro décadas.

Gruau não só reapareceu nos lenços Dior e na reedição recente das publicidades dos perfumes da marca, mas Londres agora está repleta da sua dose de chiquetê. Três exposições exibem os trabalhos dele – duas delas, 100% dedicadas a ele. Uma, das ilustrações para a Dior, no Somerset House. Oiutra na Fashion Illustration Gallery.

International Textiles, n.341/2, 1961

International Textiles, n.318, 1961


O que o súbito interesse diz sobre o nosso tempo? Queremos, de novo, ser uma versão melhor de nós mesmas? Eu não me incomodaria de ter os braços e pernas de quilômetros, por exemplo, como as mulheres idealizadas de Gruau – considerado o maior do século 20 e com um herdeiro estético à altura: David Downton. É disso que estamos atrás: uma saída pela direita do cotidiano e do rame-rame? Mais poesia, mais imagem sintética do nosso tempo, e menos "compre esse sapato dessa foto desse editorial"?

Organizada no Design Museum, uma retrospectiva da ilustração de moda no século 20 aponta o uso do traço sempre que a necessidade da fantasia falou mais alto (em oposição ao tempo em que a ilustração tinha de mimetizar todos os detalhes da roupa, fazendo as vezes da foto). Nos anos 1910, Georges Lepape fazia os desenhos de Paul Poiret – e hoje um pochoir da Gazette de Bon Ton é coisa para colecionador. Passear pelos desenhos de Lepape, Christian Bérard, René Gruau, Antonio até chegar a Mats Gustafson &co. não é apenas ver como a roupa mudou e sim a percepção do feminino e da cultura de cada época.

Drawing Fashion from Design Museum on Vimeo.



Gustafson é de hoje, assim como François Berthoud e Aurore de la Morinerie. As revistas pouco usam os ilustradores agora para fazer editoriais. Talvez quem se aproprie melhor da linguagem seja a Vogue Japão, que não tem o menor pudor em estampar um editorial aquarelado de Gustafson mais preocupada que está em registrar a imagem de um tempo do que o suéter Prada que bem pode aparecer em still aqui e ali.

Os anunciantes são mais generosos. Nordstrom, rede americana de lojas, comemora 10 anos de parceria com Ruben Toledo com um livro de ilustrações. Toledo é casado com a estilista Isabel Toledo e estampa seu traço nos livros da editora de moda Nina Garcia.

"A ilustração é algo ao mesmo tempo sofisticado e simples, atraente e acessível a qualquer público", me disse William Ling no nosso encontro na Fashion Illustration Gallery. Ling é casado com a ilustradora Tanya Ling, uma moça cujo traço revela que ela vê beleza além do padrão e tem uma relação de amor e ódio com a moda - como qualquer ser humano de bom senso. William deixou de ser professor para criar, em 2007, essa que há de ser a única galeria especializada no gênero.

Num golpe de sorte, ele recebeu um telefonema de herdeiros da família que publicou a International Textiles oferecendo os desenhos para as capas assinados por René Gruau. William selecionou um dezena e os originais estão à venda por valores que oscilam entre 7 mil e 12 mil libras.

"O mercado de ilustração está em alta", diz. As obras são mais baratas do que um trabalho "clássico" de arte. E o tempo deu conta do resto: colocou o traço no seu devido lugar.

Sobre essas e outras coisinhas William e eu gastamos quase duas horas de conversa. Aqui, um resumo do resumo.

Qual o valor dessas obras de René Gruau?
Primeiro, são originais. Você pode ver o sentido em que o pincel deslizou no papel e, com sorte, até o esboço a lápis do desenho. Segundo, é a primeira vez que se colocam à venda as capas feitas para a International Textiles. Gruau era um gênio da arte gráfica, da composição com cores e cortes, e não apenas um brilhante criador de imagens de moda.

É fácil encontrar trabalhos dele?
Ele está recebendo um merecido reconhecimento e há um trabalho de garimpo a ser feito. Não sabemos exatamente o que está por aí. Mas fato é que agora é uma boa hora para investir nele. Daqui para frente, a oferta vai ficar mais rarefeita.

Por que o trabalho dele é bom?
As mulheres são chics e, mesmo depois de cinco décadas, continuamos achando que elas são lindas. É a visão de um artista que se mostra poderosa além da passagem do tempo.

Você fala da marca do pincel e do lápis sobre o papel. A ilustração a mão tem mais peso do que a hi-tech, feita no computador?
Sim e não. Represento, por exemplo, Jason Brooks, um ilustrador que conseguiu chegar a um patamar de excelência fazendo ilustração digital. O trabalho parece uma pintura. Mas, no geral, tenho uma queda pelos trabalhos ilustrados a mão.

Que sentido faz hoje usar ilustração em revistas de moda?
É uma forma diferente de falar sobre o novo. E é algo que emociona, que toca as pessoas. Mas as revistas comissionam pouco se comparado à publicidade - dizem que porque não vende tanto quanto uma foto. Mas Cate Blanchett ilustrada por David Downton na capa da Vogue Austrália vendeu muto bem.

Vogue Austrália, por David Downton: original à venda na Fashion Illustration Gallery

Karl Lagerfeld e Alber Elbaz têm ilustrações ma-ra-vi-lho-sas. Você já considerou montar uma exposição com o trabalho deles?
Adoraria! Você me dá o telefone deles?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CULTURA DE MODA Cecil Beaton no meio do caminho

Há três semanas, estive em Salvador para abrir o Pense Moda, a convite de Camila Yahn e de Paulo Borges.

Em pauta, o processo de criação da Mag!. Paulo Martinez, editor de moda, e Graziela Peres, diretora de criação da revista, mostraram da partida ao resultado de 90 páginas (diminuídas agora para 60) de editorial de moda, mais das matérias e da capa.

Processos, sempre achei, podem ser tão atraentes quanto o resultado final. Não raro, mais. Saber que caminho alguém faz para chegar até "lá" é a melhor viagem. Rascunhos, rabiscos e ensaios podem não valer tanto quanto a obra final, mas expõem uma imperfeição e uma busca de que, ufff!, é sangue na veia. O resultado perfeito camufla o esforço e os desvios de raciocínio e causam a falsa impressão de que a ideia veio pronta, sem esforço, de berço. A imperfeição é fascinante.

Paulo Martinez contou que parte do seu repertório, muito além de quem carrega história de moda, vem de filmes, música, fotógrafos passé. Pra realizar um editorial, produz páginas e páginas de recortes que possam ajudar na construção de uma foto. Na edição sobre Berlim, por exemplo, da série metrópoles mundanas, Martinez juntou referências de Bauhaus e fotos de Hitler, de onde vem as poses da modelo. Como se diz em inglês, you get the picture.

Alguém na audiência perguntou, anonimamente, se Martinez pensava em transformar em livro essa coleção de colagens. Martinez - como é de praxe às pessoas que são de verdade e não que projetam uma imagem do vazio - respondeu com modéstia e sem afetação que este é um material pessoal, como quem não vê um valor maior ou público do que aquele de ajudar um editor a construir uma história.

A história pode ajudar a pensar diferente.

A Assouline, por exemplo, acaba de publicar Beaton - The Art of Scrapbooking. O livro resume, em reprodução, páginas de 40 dos 100 cadernos que o fotógrafo, ilustrador e homem-chave dos glamour years produziu entre 1930 e 1960.



O material, posse da Sotheby's londrina, é nada mais do que uma colagem (intelectual e estética) de fotos informais de Beaton, um dos âncoras da Vogue e da fotografia de moda, desenhos, copiões, recortes, bilhetes, cartas. Enfim, reflete o samba do inglês doido e chiquérrimo que foi de Beaton (imperdíveis as fotos de Greta Garbo, com quem ele tentou manter um romance menos hollywoodiano).

No prefácio brilhante de James Danziger, fica clara a relação entre imagem, memória e sentimento. "Beaton cultivava seu olhar de curador curioso", escreve Danziger.

No começo, sua obsessão por poses antinaturais e altamente estudadas, que resultaram em fotos cênicas, foram motivo de piada. Mas foram lei até a naturalidade/espontaneidade de Richard Avedon e de David Bailey suplantarem seu olhar. Na verdade, o mundo forjado pré-60s virara demodé. E o olhar de Beaton, um fotógrafo que viveu pelos seus olhos, como ele dizia, não fazia muito sentido no admirável mundo novo e beatnik dos anos 60/70. Mais tarde, ele regularia novamente sua lente para o presente e daria uma nova visão para a fotografia, agora publicada pela Bazaar.

Algumas de suas descobertas, no entanto, parecem oportunas de novo - agora que vivemos um replay de 100 anos.

Se você viu Inés de la Fressange resgatada por Karl Lagerfeld na passarela da Chanel, vai encontrar sabedoria numa das frases de Beaton (aliás, autor de livros ótimos. EU li The Glamour Years): "Basta de colocar a moda nas mãos de modelos que sobrevivem até o momento em que seus rostos começam a demonstrar alguma personalidade".


Mais e mais o Pense Moda vira mais necessário do que corretivo no dia seguinte do baile:

aqui

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

MODERNA NO ATO quem disse que é quadrado?

Carré - quadrado em francês - é como se chama o lenço Hermès.

Muito antes de existir o prêt-à-porter da maison, lá estava o quadradinho de 90x90 fazendo a cabeça das parisiennes.

É tão parisienne (Richard Martin, falecido curador do Costume Institute do Met, sacramenta em Contemporary Fashion o dado oficial de que, no Natal, um carré é vendido a cada 20 segundos em Paris)!

Criado em 1937, o carré é resultado de uma múltipla pintura na seda, criando os desenhos mais, humpf!, desenhados. Essa é a graça do carré (e da Hermès, uma maison definitivamente bem humorada, com espírito de ironia fina à francesa do gênero "rasteirinhas em Deauville"). Cada um tem uma historinha e você pode colecioná-los a perder de vista. São mais de 2 500 desenhos até agora.

Na loja do Shopping Cidade Jardim, o carré é a peça mais vendida. O que significa dizer que o carré é a peça de entrada na maison (em oposição aos perfumes, clássico de vendas em casas como Chanel). É acessível, possível, reconhecível à distância e com estilo até.

Natural que a Hermès queira mostrar à nova geração de consumidoras o quão bela a vida pode ser com um simples nó amarrado no pulso, na cabeça, no braço, na cintura, no ombro... É expertise que gente como Grace Kelly e a Rainha Elizabeth dominaram (bem, pelo menos na versão quadrado caretinha, protegendo os cabelos do sol e do vento).

A vida, de fato, fica menos ordinária com um carré colorido por perto.

Por isso, entra no ar o J'aime mon carré. O site reúne meninas de 20 e poucos e seus jeitos nada solenes de usar o carré. É uma fonte de ideias para usar o quadrado de um jeito nada quadrado. E um jeito de anunciar para as hippies chics + parisiennes de alma do mundo que em setembro chega à nada quadrada Colette uma edição especial de carrés.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Nova bio de Coco Chanel

Nova bio de Chanel: lançamento em setembro pela HarperCollins. No Brasil, pela Ediouro, ainda sem data.


Há meses, fui convidada a assistir - numa sessão privé, très chic, no Reserva Cultural - o novo biofilme de Chanel, Coco & Igor, que entra em cartaz em 6ago. Continuação não oficial de Coco antes de Chanel, o biofilme foca no comecinho dos anos 20, quando Coco vira Chanel, lança o n.5 e tem um alegado romance com o compositor russo Igor Stravinsky. É baseado na ideia que o escritor inglês Chris Greenhalgh faz da ligação entre dois ícones do modernismo.

Leia mais sobre na minha matéria para a Vogue deste mês.

Se um "Chanel 3" vier a ser feito - este, bem bom, poderia ilustrar o período de autoexílio na Suíça, esclarecer a suposta ligação com o nazismo, o fechamento das lojas - dois livros servirão de base a ele.

O primeiro é The Allure of Chanel, de Paul Morand. Amigo da costureira, o escritor a visitou em Lausanne, em 1946, e gravou depoimentos sobre n assuntos. O livro só foi publicado em 1973, dois anos depois da morte de Chanel, e é o mais próximo de um registro autobiográfico que se tem da moça. No ano passado, a editora francesa Gallimard o relançou.

O segundo é Coco Chanel: The Legend and the Life, cuja capa você vê aqui em primeiríssima mão. O livro só sai em setembro e é resultado de uma década de obsessão da jornalista e escritora inglesa Justine Picardie por Chanel. No Brasil, os direitos de publicação foram comprado pela Ediouro, mas ainda não há data prevista de lançamento. (cheque este blog para updates).

Entrevistei Justine para o artigo de Vogue, mas aqui ela fala um pouco mais sobre seu objeto de pesquisa.

Sissi – Há inúmeras biografias de Chanel. Por que você decidiu escrever uma nova bio e de que maneira o seu trabalho se diferencia e contribui para o conhecimento sobre Chanel?

Justine – Há mesmo várias biografias publicadas sobre Chanel, mas a maioria foi escrita há muitos anos - muitas têm mais de três décadas. A primeira vez que escrevi sobre Chanel foi em 1998, quando era jornalista do Telegraph, e desde então eu pesquiso sobre a vida dela. Senti que poderia oferecer uma outra dimensão de Chanel, em parte usando os arquivos da maison em Paris, aos quais me foi permitido acesso irrestrito, e em parte usando arquivos históricos no Reino Unido, documentos que nunca haviam sido examinados antes, que fornecem mais informação sobre a ligação de Chanel com Boy Capel e o Duque de Westminster, assim como a influência de ambos sobre suas criações. Também tive a oportunidade de descobrir informações sobre as atividades dela durante a Segunda Guerra nos arquivos da polícia e do serviço secreto, a maioria nunca antes examinada.

Sissi – Qual a dificuldade de se escrever sobre Chanel?
Justine – Muitas. Ela contou tantas versões diferentes sobre o seu passado e muitas foram repetidas como verdadeiras - mesmo sendo mentirosas. As ficções criadas por ela foram reportadas como fato e as ficções de outras pessoas sobre ela também adicionaram camadas ao mito. Essas histórias fictícias se propagaram, especialmente com a internet, e foram tão repetidas que as pessoas as acreditam verdadeiras quando, de fato, não há evidências sobre elas.

Sissi - Dessas passagens nebulosas, o que mais interessava a você esclarecer?
Justine – Havia tantas coisas que eu queria descobrir - e em outras eu simplesmente "tropecei". Tive muita sorte de poder me hospedar no convento de Aubazine, onde ela foi educada. As freiras me permitiram ficar no antigo monastério, ainda que o orfanato não exista mais. A atmosfera do lugar é extraordinária. Também me deixaram escrever no apartamento de Chanel, na Rue Cambon, o que foi altamente inspirador. Eu queria muito esclarecer a ligação de Chanel com os alemães durante a Segunda Guerra. As pessoas sempre dizem "ela teve um caso com um nazi", mas as coisas se revelaram muito mais complicadas do que parecem. Ela estava cercada de agentes duplos e eu espero que isso fique claro no meu livro.

Sissi – Uma das minhas maiores curiosiodades é saber justo sobre a vida de Chanel durante a Guerra. A família Wertheimer, dona da grife, se opôs em algum momento a essa etapa da pesquisa, preocupada talvez com o fato de manchar a imagem do duplo C?
Justine –
Não me encontrei com ninguém da família Wertheimer, mas todos da maison Chanel foram muito prestativos: todos os arquivistas do Conservatoire e, sem dúvida, o próprio Karl Lagerfeld, que sabe muito sobre Coco Chanel.

Sissi – Ainda assim, há perguntas para as quais você não encontrou resposta?
Justine –
Não consegui responder várias questões sobre a infância dela. Por exemplo, ela reviu o pai depois de deixar o orfanato? Eu simplesmente não sei.

Sissi – Como você organizou o livro?
Justine –
Os capítulos estão divididos em parte pela cronologia, em parte por tema. É uma maneira de cobrir tanto a iconografia como os períodos da sua vida.

Sissi - Você cobre o alegado romance entre Coco Chanel e Igor Stravinsky, tema do novo biofilme sobre a costureira?
Justine –
Sim, ainda que não exista qualquer evidência que de fato eles tenham tido uma relação física.

Sissi – Como você definiria o relacionamento entre eles?
Justine –
Acredito que era uma ligação intensa, mas longe de ser duradoura como as relações com Boy Capel e o Duque de Westminster. O livro de Chris Greenhalgh é um romance, o que dá a ele mais liberdade de imaginar o que se passou entre Chanel e Igor. Na verdade, Stravinsky jamais falou sobre o assunto. Temos apenas o relato de Chanel registrado por Paul Morand - o que é apenas um lado da história - e um ou outro comentário de Misia Sert.

Sissi – Chris Greenhalgh sugere que Stravinsky passou do modernismo para o neoclassicismo na música e Chanel descobriu o n. 5 graças a influência de um sobre o outro. Você concorda? Qual a importância de Stravinsky na vida/obra de Chanel e vice-versa?
Justine –
Não há dúvida de que Stravinsky tenha escrito obras importantes durante sua estada em Bel Respiro, mas ele já havia demonstrado se afastar do modernismo antes disso e parte das composições criadas na casa de campo de Chanel tinham ligação com a música tradicional da Rússia. Sobre o n.5: as ligações são intrigantes – por exemplo, a composição para cinco dedos de Stravinsky, feita na época, evoca o nome do perfume –, mas estão longe de serem conclusivas. Ambos tiveram outras influências de peso - e a segunda mulher do compositor nega a ideia de que Chanel tenha sido relevante. Imagino que ela tivesse ciúme, mas ainda assim vale a pena apontar. Também é bom considerar que Chanel foi apresentada a Ernest Beaux, o perfumista do n.5, pelo Duque Dmitri e não por Stravinsky.

Sissi – Quem tem mais physique du rôle para interpretar Chanel: Audrey Tautou ou Anna Mouglalis?
Justine –
Tautou se parece muito com Chanel jovem. Mouglalis é carismática.

Sissi – Como você vê Chanel?
Justine –
Como uma self-made woman, alguém que construiu uma fachada como quem faz uma vitrine para se proteger. Ela tinha uma aparência extraordinária, mas, mesmo depois de uma vida de sucesso e conquistas, ainda permanecia vulnerável. Nesse sentido, ela era uma mulher como qualquer outra.

Sissi – Num certo sentido, você deve sentir um alívio enorme de ter chegado ao ponto final. Ou não? Deu um vazio agora que o livro está pronto?
Justine –
Não consigo parar de pensar nela! Agorinha mesmo me peguei pensando que não falei o suficiente sobre a última noite em Marienbad e quis acrescentar informações na prova. Acho que eu poderia passar a vida escrevendo sobre Chanel sem jamais sentir que o trabalho está completo.

Sissi – Por fim, frivolidades: você usa Chanel?
Justine –
Sim, eu uso: n5, claro! Também admiro Karl Lagerfeld - a maneira como ele reinventou a grife e ainda compreende claramente a essência de Coco Chanel. Tenho um pretinho básico que já tem mais de uma década e ainda parece atual. E tenho também um casaqueto Chanel que uso quase todo dia com jeans...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cristóbal Balenciaga em NY

Por Hilary Alexander, diretora da moda do Telegraph

Abre em novembro, no Queen Sofia Spanish Institute, em Nova York, a primeira expo a olhar com profundidade para o impacto da cultura, história e arte espanholas no trabalho de Cristóbal Balenciaga, a quem Cecil Beaton chamou de "o Picasso da moda".

As inovações de Balenciaga - a arte da silhueta, o domínio dos volumes e as inspirações vibrantes - transformaram o jeito como as mulheres se vestiram desde a abertura da sua casa, em 1937, até sua aposentadoria, em 1968.

Concebida por Oscar de la Renta, que trabalhou em Madri numa filial de Balenciaga, e com curadoria de Hamish Bowles, editor para a Europa da Vogue América, a expo reunirá 60 itens desenhados por Balenciaga, incluindo obras-primas como o vestido Infanta, de 1939, os boleros de 1946, os vestidos-flamenco de 1951 e 1961, e o vestido de noiva bordado de Sonsoles Díez de Rivera, filha da musa do costureiro, a Marquesa de Llanzol.


BALENCIAGA: Spanish Master. Queen Sofía Spanish Institute, 684 Park Avenue
De 9nov a 19fev2011.

domingo, 2 de maio de 2010

Bill Cunningham, quem eu quero ser quando eu crescer

Chapeleiro antes de ser fotógrafo - e o fotógrafo de moda de rua como comportamento (em oposição à "moda de rua" limitada ao jeito de vestir dos sócios do fashion club documentada por Scott Schuman, Garance Doré, Jak & Jil...) da coluna On the Street, The New York Times -, Bill Cuningham é o meu exemplo de contador de história(s) da moda.

Ao contrário dos tempos BBB que vivemos, em que jornalistas de moda se tornam celebs e por vezes se acham mais importantes do que a notícia e do que o trabalho de reportá-las, Cunningham se nega a estar do outro lado da lente: ele deu um trabalho incrível, de anos, para virar foco de um documentário sobre seu trabalho.

Seu olho é vivo, seu faro é fino, seu conhecimento é gigabytes. Ele capta - como antena e como fotógrafo – as mudanças da moda como ninguém. É movido a curiosidade, pela bicicleta, em qualquer lugar do mundo. A noção de que moda é um fenômeno das metrópoles é uma das lições mais bonitas do seu trabalho. Ela só tem razão de ser quando cabe, sempre levando um salto à frente, nas pessoas anônimas.

Este slide show de Cunningham é uma amostra de que, daqui a décadas, seu trabalho vai ser documento para revelar todos os shifts pelo quais passamos desde a década de 40, quando ele começou a registrar o que faz o seu olhar (e, portanto, seu lente) parar - sem julgamento estético (vulgo, "acho feio, acho bonito"), mas com senso de história.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Suzy Menkes sobre Pierre Cardin, 60 anos de moda




De 22março, no NYT:

Pierre Cardin: One Step Ahead of Tomorrow

By SUZY MENKES

PARIS — It is 60 years since Pierre Cardin, fashion’s eternal futurist, opened his Paris fashion house; half a century since he first brought his designs to a desolate, postwar Japan; and more than two decades since he pioneered fashion in China, becoming such a cultural super star that he was watched by this journalist in Beijing in 1993 being cheered and smothered with bouquets of flowers.

But face to face, Mr. Cardin is short on reminiscences about Mao jackets and bicycles and minimizes the historic forward march of his long career. There is only one subject that really interests this 87-year-old designer: What is he doing for tomorrow’s world?

“When I started 60 years ago, the fashion I was drawing was something strange — people said I was crazy and they never wanted to wear my clothes,” said Mr. Cardin, signing copies of his commemorative book at Maxim’s, the historic Parisian Belle Époque restaurant, that he owns and has turned into a global brand.

“My way was to draw something of the future — to be young, to see that a woman could be free,” said Mr. Cardin. “I wanted to give women in the 1960s a chance to work, to sit, to take the car and drive in my dresses.”

The new architecture that the designer built to express the physical and mental emancipation of women is vividly illustrated in “Pierre Cardin, 60 Years of Innovation,” written by Jean-Pascal Hesse, his long-term collaborator, and published by Assouline.

The 1960s dresses, square-cut to free the body, but with all sorts of circular cutouts and satellite sleeves spinning in orbit round the arms, are icons of the space age. The alien innocents in their aviator helmets, miniskirts and colorful hose, expressed the explosion of a new youth culture.

The landmark Cosmos collection of 1964, with tunic and hose for both men and women, was a confident statement about unisex clothing. It anticipated the masculine/feminine fashion standoff that dominated the second half of the 20th century.

There are iconic pieces: the 1968 minidresses in “Cardine,” an early experiment with techno fabric; a circular 1969 vinyl raincoat; or even a felt 1971 envelope hat. Perhaps the most striking thing about the designs is not their sharp angles and compass twirls. It is that they could all walk right out on the street today and not seem out of place.

In fact, today’s students seem to be catching up with Mr. Cardin’s style. During London Fashion Week last month, there was a dominance of 3-D dresses with angular cuts, created, as if they were the designer’s disciples, by the class of 2010 at Central Saint Martins college of art and design.

“I have a very big respect for English design, because they are provocation, and when you provoke, something stays after,” says Mr. Cardin.

Yet his own fashion training was a conventional apprenticeship in haute couture, where he learned his precise cutting skills. After a tough childhood, as his parents, escaping Italy’s Fascist regime, settled in France in 1924, “Pietro Cardin” was apprenticed to a tailor and then worked at the houses of Paquin, Schiaparelli and Christian Dior. He remembers the artistic milieu when he worked with the decorative artist Christian Bérard to design costumes for Jean Cocteau’s legendary 1946 movie “La Belle et la Bête” (Beauty and the Beast).

But the radical designer was never comfortable inside a shell of couture gentility. He scandalized the fashion world when he introduced ready-to-wear clothes in 1959 — for which egalitarian gesture he was flung out of the Chambre Syndicale, couture’s ruling body.

From then on, Mr. Cardin was considered a maverick and an outsider, criticized for creating furniture that looked as though it were extruded from a space ship (although he explains that he would “buy the tree, cut the wood and make the drawing.”) The designer was berated for building an empire on licenses for anything from men’s shirts to a frying pan — even though it made him a fortune, which he invested in classic French real estate, including the Marquis de Sade’s castle in the Lubéron district. There he holds annually one of his many cultural events.

“I am presenting ‘Casanova,’ a comedy musicale in the Place San Marco in Venice next July,” says Mr. Cardin. “And last year I made ‘Marco Polo’ in China. I try to make my life enjoyable.” He was referring to a ballet about the exotic travels of the medieval explorer Marco Polo, interpreted by the Shanghai ballet to usher in the Chinese Lunar New Year.

The boldly illustrated book, with its images of the colorful circle furniture and of the visionary zippered-jersey masculine sportswear, is a monument to the Pierre Cardin oeuvre. But the designer’s legacy is also about his visits to China and his early vision of fashion’s dormant dragon, which he helped to awaken. Subsequently he has pioneered other areas, showing collections in front of 200,000 onlookers in Moscow’s Red Square in 1991 and opening up Vietnam in 1993. His aim is always, even in his late ’80s, to appeal to the next generation.

Perhaps the most interesting angle on the Pierre Cardin legacy is its current relevance, as viewed by a designer who was not even born when the geometric futurism was created.

Louise Goldin, 30, a graduate from Central Saint Martins, found a Cardin image of an outfit, paneled in leather, during research for her autumn 2010 collection.

“It is beautiful and it still looks so futuristic — and that is the way I have been working,” says Ms. Goldin. “I like to challenge myself. There were a lot of elements of 3-D. But that is the moment we are in. His images still look so incredibly modern.”



Mais sobre, na matéria que eu publiquei na edição de janeiro 2010 de Vogue.



No mundo da lua
Livro refaz os 60 anos da viagem cósmica de Pierre Cardin, o criador futurista que deu sentido a palavra designer.

Por Simone Esmanhotto

Tem um clichê a que o mundo da moda adora recorrer: "existe um antes e um depois de fulano de tal". Bem aplicado, o raciocínio vale para Coco Chanel, para Yves Saint Laurent e até para o neófito Alexander Wang, mocinho que reconheceu a dinâmica da vida hipermoderna e injetou o lado salto alto no esporte e no moletom. E vale, sem dúvida, para Pierre Cardin que, do alto dos seus 87 anos, comanda há seis décadas a marca própria – uma trajetória sem igual revista em Pierre Cardin: 60 years of Innovation (Assouline, 75 dólares). "Cardin foi pioneiro na criação de um look escultural, arquitetônico, com uma sensibilidade futurista", diz Jean-Pascal Hesse, autor do livro e diretor de comunicação da maison Cardin há 15 anos.

A questão é qual o antes e depois de Cardin para a moda? Com 120 imagens distribuídas em 200 páginas, o livro seduz a ponto de qualquer um jurar piamente que é a estética. Mas, quando eu avisto, a caminho desta Vogue, um taxista de um ponto nos Jardins com um jeans bem índigo e a assinatura Pierre Cardin em fio alaranjado pespontada num dos bolsos de trás, meu hunch diz outra coisa. Por mais imperdível, lindo e necessário de se conhecer que seja o look Jetsons de Cardin, ele é uma das pontas do triângulo amoroso da moda com a corrida espacial da década de 1960 – as outras duas ocupadas por André Courrèges e Paco Rabanne. O que faz dele único é ter transformado seu nome em marca, um pequeno passo para o homem mas um gigantesco salto para a moda. Se Chanel abriu as portas do closet feminino para a modernidade e Yves Saint Laurent criou o figurino da liberação dos estereótipos sexuais, foi Cardin quem permitiu ser possível comprar hoje um lençol Alexandre Herchcovitch ou um míni Reinaldo Lourenço para C&A. "Eu queria que meu nome se tornasse uma grife, não apenas uma etiqueta", declarou.

Seu desejo, hoje parte do ar que a moda respira, virou a base de um império bilionário, que engloba das roupas aos móveis, passando por hotéis e até o lendário restaurante Maxim's, em Paris. Mas em 1959 – ano da primeira coleção prêt-à-porter feminino de Cardin (e do mundo), desfilada da loja de departamentos Au Printemps – deixar de ser uma etiqueta significava deixar de circular apenas nos grandes salões. "Essa forma de distribuição e diversificação era o caminho lógico para um costureiro que acreditava que o direito ao luxo não deveria ficar restrito a uma elite e sim ser aproveitado por milhões de mulheres", diz Elisabeth Längle, autora de Pierre Cardin: Fifty years of Fashion and Design (Thames and Hudson). CArdin estava anos-luz à frente dos pares. Esnobe por definição e feliz por estar confinado à pequena roda da alta sociedade, o clã da alta costura ficou siderado. Cardin foi criticado por explorar (no mau sentido do verbo) seu nome e diminuir o prestígio do métier. "Ele quebrou as regras do jogo e abriu caminho para o consumidor atual, que é vidrado em design." É lenda, segundo o jornalista Richard Morais, autor de Pierre Cardin: the Man who became a Label (Batam), a história de que Cardin teria, por isso, sido expulso da Câmara Sindical. Ele saiu por conta própria depois de quebrar a regra de restrição à cobertura dos desfiles pela imprensa.

Nascido em 1922 em Sant'Andrea di Barbarana, nos arredores de Veneza, e criado no interior da França, Cardin sempre foi um visionário. Antes de abrir a própria maison, passou por ateliês de gente tão avant-garde quanto ele. Primeiro como aprendiz no ateliê de Jeanne Paquin (1869-1936), a primeira costureira a levar os desfiles para onde estava a clientela. No caso do verão, de Paris para Longchamps ou Chantilly. Depois, veio a passagem-relâmpago por Elsa Schiaparelli, que abalou a noção de chic com doses espetaculares de sportswear e surrealismo. Por fim veio Christian Dior, com quem Cardin foi trabalhar logo no começo do ateliê que ressuscitou a alta costura varrida do mapa pela Segunda Guerra. Quando todos os costureiros se limitavam a assinar perfumes, Dior ousou licenciar seu nome em meias. Foi criticado por explorar (no mau sentido do verbo) seu nome e diminuir o prestígio do métier, mas mostrou a Cardin qual seria o verdadeiro new look da moda. Com um visão redonda do mundo – ele já declarou amar o círculo, "um símbolo da eternidade. Sou um Pierrot Lunar fascinado pelo universo. A lua, o Sol, a Terra são criações puras, sem começo nem fim", disse – Cardin entendeu que não havia limites para a criação e que ela andava de braços dados com o negócio. Seu olhar deu formas geométricas a roupas, acessórios, pufes e tudo mais o que um designer – e não mais um costureiro e não simplesmente um estilista – poderia inventar. E levou seu desenho até mesmo para o jeans do taxista dos Jardins. Depois de Cardin, a moda virou o universo em expansão.


Veja o slideshow

E o vídeo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

2000 - 2010: uma década de moda - parte 6

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

BLOGUEIROS, A CRESCENTE INFLUÊNCIA DOS ADOLESCENTES... A MODA E SEUS DITADORES MUDOU. FENÔMENO ATUAL OU SERÃO ELES OS PRÓXIMO TRENDSETTERS ?

« O consumidor é o novo trendsetter. Ele é também aclamado pela publicidade: veja o recente slogan da Microsoft, “foi ideia minha”. De hoje em diante, a gente vai se reapropriar de tudo. O novo trendsetter é o novo coletivo. » Vincent Grégoire, trendsetter, bureau de estilo Nelly Rodi.

« Essa é a geração hiperconectada, hiperinformada, que usa a tecnologia melhor do que nenhuma outra. A força crescente das redes sociais deverá tornar esse jovens os próximos trendsetters. » Anne-Florence Schmitt, diretora de redação de Madame Figaro.

« Blogueiros e adolescentes permitem aos trendsetters se questionarem mais rapidamente e mais constantemente. » Sarah, directrice du concept-store Colette.

« A moda sempre foi um processo seletivo. A audiência, hoje, apenas cresceu. É tudo. » Rick Owens, estilista.

« Internet e o acesso amplo às imagens mudou a relação com a moda. Adolescentes, blogueiros, simples clientes: os criadores encontram mais facilmente o seu público na rede. » Didier Grumbach, presidente da Federação Francesa de Alta Costura.

« Sim, sem dúvida! Mas os criadores, as revistas e os stylists conservarão seu lugar de ditadores. A internet abriu um novo modo de influenciar opiniões por meio dos blogs, dos sites de moda e dos sites das marcas e seus desfiles online. O esporte, a música e as ruas se firmaram como reais influenciadores. » Margareta Van Den Bosch, consultora criativa da H&M.

2000 - 2010: uma década de moda - parte 5

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

O BOOM DAS REDES COMO H&M, O E-SHOPPING, AS VENDAS PRIVÉES, A MODA VERDE E ÉTICA, O ENTUSIASMO COM A MODA INFANTIL. QUE MODINHAS MUDARAM A ROTINA?

« No fim dessa década, nos encontramos num momento de crise justamente porque há muito de tudo. A oferta é muito grande, as pessoas estão desorientadas. A única saída é a criatividade na escolha de tecidos, na fabricação, na produção de coleções menores. A moda virou incestuosa: só o povo da moda compra moda. É preciso interromper esse ciclo vicioso. » Jean Paul Gaultier, couturier.

« Não posso levar a moda eco ou ética a sério: se você uer de fato ajudar o planeta, compre menos roupa. » Rick Owens, estilista.

« Prisunic (loja à moda H&M) nos anos 1930 não impediu o aparecimento de Jacques Fath e Balenciaga! Da mesma forma, Dior e Chanel convivem com Zara e H&M. Essa efervescência é um sinal de dinamismo. » Didier Grumbach, presidente da Federação Francesa de Alta Costura.

« A influência das ruas na moda e vivce-versa. »Anne-Florence Schmitt, diretora de redação de Madame Figaro.

« Compra de moda pela internet. É difícil de imaginar que isso não existia há 10 anos. »Natalie Massenet, do net-a-porter.com

« A luta dos extremos: a street fast fashion contra os überdesigners, o haut e o bas na pirâmide da moda… Ambos com as mesmas modelos nas mesmas campanhas: só o preço da roupa muda! O futuro é o in-between: não mais o superlativo, mas uma nova humildade vai mudar as regras do jogo. » Vincent Grégoire, trendsetter, bureau de estilo Nelly Rodi.

2000 - 2010: uma década de moda - parte 4

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

QUAL A TENDÊNCIA MAIS IMPORTANTE DA MODA?

« O unissex e o individualismo. Moda demais, corrente demais, tendência demais: a mulher está se buscando. Tudo se mistura e o gosto fica mais pessoal. » Anne Valérie Hash, estilista.

« Penso que, em reação à saturação de informações, um desejo de editar a moda de uma maneira mais prudente vai chegar em breve. » Rick Owens, estilista.

« O fracionamento das tendências em micromovimentos cada vez mais rápidos e a coexistência de estilos que obedecem cada vez menos a uma estação rígida e mais a uma geografia cultural. » Tancrède de Lalun, diretor de compras de moda feminina e masculina da Printemps.

« A multiplicação das tendências. » Sarah, da Colette.

« A passagem de Heidi Slimane chez Dior Homme impôs uma silhueta nova, marcante, que ultrapassou o gênero masculino. As calças slim e de cintura baixa são duas tendências que marcam a década. A onda das bolsas, o frenesi Louboutin e o incrível avanço da sola vermelha brilhante.» Anne-Sophie von Claer, diretora adjunta de redação do Figaro.

« O marketing, o porno choc, o vulgar e a uniformização do mundo pelo "luxo". » Jérôme Dreyfuss, designer de acessórios.

« O jeans, cult, contemporâneo e transgeracional, cheap ou chic », Maryline Bellieud-Vigouroux, do Institut Mode Méditerranée.

« Um festival de tendências. O « it » em todas as categorias. Mesmo que não pareça, os anos 2000 foram endinheirados e fingidos no excesso e na ostentação. e também foi quando começamos a buscar a moral, a verdade e a lealdade. Passamos então de uma sociedade de consumo para uma sociedade de consideração. » Vincent Grégoire, trendsetter, bureau de estilo Nelly Rodi.

2000 - 2010: uma década de moda - parte 3

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

QUAIS OS MOMENTOS MAIS MARCANTES DA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO 21?

« A ressureição de Balenciaga e Givenchy, tão fortes e tão marcantes que nos perguntamos como algumas lojas de departamento sobrevivem sem eles nas vitrines e nas araras. Nas mesmas cadeias, o evento da chegada dos grandes nomes da moda (Karl Lagerfeld, Roberto Cavalli, Sonia Rykiel, Jimmy Choo…), que aboliram as fronteiras entre o luxo e o barato. » Anne-Sophie von Claer, diretora adjunta de redação do Figaro.

« A festa da Prada na sede do Partido Comunista, Fendi na Muralha da China: é tudo simbólico, não? Senão, todos os desfiles de Viktor & Rolf, Hussein Chalayan e Alexander McQueen, sempre espetaculares. » Sarah, diretora da Colette.

« A morte de Monsieur Saint Laurent marca o fim de uma época, o fim de um conceito sonhador da moda. »Jérôme Dreyfuss, designer de acessórios.

« A ressurreição de marcas antigas de moda como Balenciaga, Lanvin, Balmain. » Anne Valérie Hash, estilista.

« O ciclo de exposições do Arts Décoratifs: Christian Lacroix, Madeleine Vionnet, Viktor & Rolf, Balenciaga. Isso coloca a moda num circuito cultural que dá gosto de descobrir e provoca emoções. Também a morte de Yves Saint Laurent: a tristeza e o fim de uma época. E o sucesso planetário da Colette. » Jean-Pierre Blanc, diretor do Festival international de Mode et de Photographie de Hyères.

2000 - 2010: uma década de moda - parte 2

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

QUEM SERÃO OS PRÓXIMO GRANDES NOMES?

« Eles virão de Inglaterra, com aquela mágica definida por Kinder Aggugini. E do Mediterrâneo temos Rabih Kayrouz. A Turquia também nso reserva boas surpresas. »Maryline Bellieud-Vigouroux, fundadora e presidente do Institut Mode Méditerranée.

« Alexander Wang, Phillip Lim pela sua elegância e hoje e sempre Phoebe Philo… Que ela não pare mais, por favor! » Laetitia Ivanez, da Prairies de Paris.

« Se eu tivesse meios para decidir, Jean Colonna, Haider Ackermann, Romain Kremer, Gaspard Yurkievich, Jean-Paul Lespagnard, Matthew Cunnington… » Jean-Pierre Blanc, direyot do Festival International de Mode et de Photographie de Hyères.

« Proenza Schouler, Phoebe Philo et Christopher Kane. » Anne-Sophie von Claer, diretora adjunta de redação do Figaro.

« Rodarte, Gareth Pugh, Alexander Wang. » Sarah, da Colette.

« Rodarte, duas americanas extremamente criativas e capazes de seduzir novas gerações. Phoebe Philo, que tem o futuro pela frente e mostrou desde o primeiro desfile o poder da sua imaginação e sua noção da mulher contemporânea. »Anne-Florence Schmitt, diretora de redação de Madame Figaro.

2000 - 2010: uma década de moda - parte 1

É o momento de balanços, então aí vai o produzido pelo Figaro:

QUAIS OS NOMES MAIS INFLUENTES DA MODA NA ÚLTIMA DÉCADA?

« Heidi Slimane e Tom Ford são dois überdesigners, ditadores artísticos, que não influenciaram o comércio, mas verdadeiramente a moda. Outros personagens poderosos: as pessoas, que vampirizam a moda inspiradas pelas musas. » Vincent Grégoire, trendsetter, bureau de estilo Nelly Rodi

« Karl Lagerfeld, Alber Elbaz, Heidi Slimane, Junya Watanabe, Comme des Garçons, Jeremy Scott, Raf Simons, Alexander McQueen, Hussein Chalayan, Martin Margiela… » Sarah, diretora da Colette.

« Tom Ford criou um novo negócio, uma nova maneira de entender o métier tanto do ponto de vista da criação e da distribuição quanto da percepção que se tem do mundo do luxo. » Jérôme Dreyfuss, designer de acessórios.

« Nicolas Ghesquière, porque ele projeta a moda para o futuro desenhando uma mulher muito atual. Hedi Slimane, porque ele soube seduzir homens e mulheres com uma silhueta andrógina. Karl Lagerfeld, porque sua noção do instante, seu chic sem falahas permenece sem igual até hoje. »Anne-Florence Schmitt, diretora de redação de Madame Figaro.

« John Galliano, no começo da década. Tom Ford, um iluminado no planeta moda. Miuccia Prada, Stefano Pilati, Alber Elbaz, Riccardo Tisci e, talvez acima de todos, Nicolas Ghesquière, autenticamente moderno e visionário, filho por direito de Cristóbal Balenciaga. » Anne-Sophie von Claer, diretora adjunta de redação do Figaro.

« Não podemos negar a influência de Kate Moss, seu olho e seu fenomenal senso de estilo, que sempre fizeram as coisas mudarem. » Natalie Massenet, fundadora do net-a-porter.com.

domingo, 25 de outubro de 2009

FOREVER GIRLS Jean Patchett

Jean Patchett é um dos rostos definitivos dos anos 1950.

E talvez a mais definitiva de suas imagens seja o close – boca vermelha, olhos delineados, sobrancelha arqueada, pele branca, pinta verdadeira – tirado por Erwin Blumfeld para a capa de Vogue de 01jan1950.

"The Doe Eyes" é o nome do close gráfico, à moda do teatro Kabuki, que Blumfeld fez de Planchett

A cara da década Dior.


Irving Penn e Jean Patchett entraram para a história da foto de moda com esta imagem: um clique espontâneo da modelo entre fotos, mordendo o colar de pérolas, num café em Lima, Peru, virou o shot publicado pela Vogue em 15fev1949.



No leilão da Christie's, de 2007, o catálogo dizia:
"Esta fotografia marca uma virada na fotografia de moda em Vogue porque mostra as roupas, sem pose, num cenário real. É resultado do esforço do diretor de arte Alexander Liberman de "empurrar" Irving Penn para trabalhar em Lima, Peru, longe do seu estúdio em Manhattan.

A modelo, Jean Patchett, lembra: "Voamos 3 200 milhas e, quando chegamos, Sr. Penn não usou a câmera por uma semana. Comecei a ficar ansiosa. Todo dia eu acordava, me arrumava e ele nunca tirava uma foto.

Um dia encontramos esse café e havia um moço sentado à minha frente. Eu estava ficando frustrada. Fiquei ali, pensei "dane-se", comecei a mexer nas pérolas e tirei os sapatos porque meus pés doíam. Ele disse: "Pare!". (Angeletti and Oliva, In Vogue, Rizzoli, 2006, p. 147.)"

Dali para frente, escreveu Cathy Horyn no NYT, Irving Penn sempre proporia um enredo – encontrar o amante no teatro, por exemplo – e à medida em que Jean Patchett esticava seu pescoço longo como que à procura do namorado.

Patchett morreu em 22 de janeiro de 2002, aos 75 anos, em la Quinta, Califórnia.



Nina Leen fotografa Jean Patchett para um editorial de moda barata usada com roupas caras, Life, 1949: hi-lo há 50 anos. (o biquíni é feito de lenços amarrados – dedicado a minha amiga juju)



Na Vogue de 15maio1950, John Rawling fotografa Jean Patchett entre cravos para celebrar a primavera.


Jean Patchett por Horst P. Horst para a Vogue (2dez1955)

domingo, 4 de outubro de 2009

DOU-LHE UMA, DOU-LHE DUAS leilão de moda, Audrey Hepburn

11 entre 10 fashionistas admiram Audrey Hepburn, que, junto com Hubert de Givenchy, foi a bandeira maior de uma feminilidade gráfica (coisa que parece impossível), simples, sem "rocoquismos" e, milagrosamente, sem linhas retas dominantes (leia-se masculinidade).

No dia 8 de dezembro, a Kerry Taylor Auctions, única casa de leilão especializada em moda de que tenho notícias, vai promover um leilão de peças presenteadas por Hepburn a uma amiga. Kerry me disse que este leilão é histórico porque as peças de Audrey raramente são colocadas à venda.

A coleção inclui vários pretinhos básicos de Valentino, Elizabeth Arden (o modelo que ela usou quando conheceu o primeiro marido, Mel Ferrer, em 1953)_ além de Givenchys, sem dúvida: o vestido de seda de Paris when it sizzles (Quando Paris alucina, 1962) tem preços estimados entre 10 e 15 mil libras esterlinas e o vestido de coquetel de renda chantilly de How to steal a million (Como roubar um milhão de dólares, 1966) vai de 8 a 12 mil libras esterlinas.

Kerry Taylor ainda leiloa 36 peças datadas de 1953 até o fim dos anos 1960, chapéus, cintos e um porção de cartas em que Audrey relata a entrada no cinema, o casamento proposto por James Hanson e o período de filamgem de Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu, 1953).

Leilão: terça, 8dez, 14h (Londres)
Onde: La Galleria, Royal Opera Arcade, Pall Mall
Exposição: domingo, 6dez, 12h/17h; seg, 7dez, 9h30/17h; ter, 8dez, 9h30/12h.

Audrey Hepburn, de Givenchy de seda, inverno 1966, a ser vendido com a foto da atriz vestindo o modelo: valor estimado em 10 mil-15 mil libras esterlinas.

Londres-Paris, por Balzac

Agora que Londres voltou a ter relevância (ufa!) nas passarelas (em oposição a apenas nas ruas), eu encontrei isso em Alberto Savarus, uma das novelas de Balzac - que, junto com Proust, dá relevância à moda como personagem de um tempo.

Adoraria saber o que ele(s) escreveria(m) agora.

Paris, maio de 1842.

"Em todos os tempos, a França e a Inglaterra têm feito uma troca de futilidades, tanto mais seguida, porque escapa à tirania das alfândegas. A moda que em Paris chamamos de inglesa é em Londres chamada francesa, e reciprocamente. A inimizade dos dois povos cessa em dois pontos: na questão das palavras e na do vestuário.

God Save the King, o hino nacional da Inglaterra, é uma música feita por Lulli para os coros de Esther ou de Athalie*. As anquinhas, trazidas por uma inglesa para Paris, foram inventadas em Londres, conhece-se o motivo, por uma francesa, a famosa Duquesa de Portsmouth**; começaram por provocar tal zombaria que a primeira inglesa que assim apareceu nas Tulherias escapou de ser esmagada na multidão, mas as anquinhas foram adotadas. Essa moda tiranizou as mulheres da Europa por meio século. Na paz de 1815, gracejou-se durante um ano da cintura baixa das inglesas. Paris em peso foi ver Pothier e Brunet em Les Anglaises pour rire***; mas, em 1816 e 1817, a cintura das francesas, que em 1814 lhes cortava os seios, desceu gradativamente até lhes delinear as cadeiras."


*Lulli, compositor italiano, diretor da Academia Real de Música em Paris – e esther e Athalie, tragédias de Racine.
**Louise-Renée de Panancoët de Kéroal (1649-1734), favorita de Carlos II, da Inglaterra.
*** comediantes do vaudeville de Servin e Dumersan.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

FANTASCHIC trompe l'oeil

Peças Hermès, 1952, fotografadas por Gordon Parks.

Quem viu Comme des Garçons e Ronaldo Fraga em momentos Schiaparelli sabe.







































domingo, 16 de agosto de 2009

Elsa Schiaparelli (1890 - 1973) - parte 4

"Um vez ou outra eu pensava que no lugar de fazer esculturas ou pinturas, ambas artes que eu dominava, eu poderia inventar roupas ou figurinos. Design de roupas, para mim, não é a profissão mas uma arte.

Eu descobri que era das artes mais difícieis e insatisfatórias, porque no momento em que um vestido nasce ele já se torna algo que é parte do passado. Não raro faltam elementos para se realizar tudo o que foi imaginado. A interpretação de um vestido, a forma de fazê-lo e as maneiras surpreendentes de os materiais se comportarem – todos esses fatores, não importa quão bom seja o intérprete, invariavalmente reservam desapontamento.

De certa forma, é até pior que voc6e se satisfça, porque uma vez criado, o vestido já não mais pertence a você. Um vestido não pode ser pendurado na paredeou como um livro permanecer intacto e viver uma longa e protegida vida."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Elsa Schiaparelli (1890-1973) - parte 3

O kit de sobrevivência de Schiap para tempos mínimos.

Salvo mudanças de comportamento, raras são as mudanças no closet de uma mulher adulta.

- um tailleur preto e uma blouse
- um paletó leve
- um casaco
- um vestido preto
- um vestido estampado
- um vestido de noite
- quatro chapéus
- três suéteres
- quatro pares de sapato
- lingerie
- luvas
- meia-calça
- bolsas de mão
- uma capa de chuva
- acessórios

Joan Crawford, atriz, socialite de sobrenome Fairbanks e cliente de Schiap: vestido de veludo da estilista na Vogue, 1932.