terça-feira, 22 de junho de 2010

Nova bio de Coco Chanel

Nova bio de Chanel: lançamento em setembro pela HarperCollins. No Brasil, pela Ediouro, ainda sem data.


Há meses, fui convidada a assistir - numa sessão privé, très chic, no Reserva Cultural - o novo biofilme de Chanel, Coco & Igor, que entra em cartaz em 6ago. Continuação não oficial de Coco antes de Chanel, o biofilme foca no comecinho dos anos 20, quando Coco vira Chanel, lança o n.5 e tem um alegado romance com o compositor russo Igor Stravinsky. É baseado na ideia que o escritor inglês Chris Greenhalgh faz da ligação entre dois ícones do modernismo.

Leia mais sobre na minha matéria para a Vogue deste mês.

Se um "Chanel 3" vier a ser feito - este, bem bom, poderia ilustrar o período de autoexílio na Suíça, esclarecer a suposta ligação com o nazismo, o fechamento das lojas - dois livros servirão de base a ele.

O primeiro é The Allure of Chanel, de Paul Morand. Amigo da costureira, o escritor a visitou em Lausanne, em 1946, e gravou depoimentos sobre n assuntos. O livro só foi publicado em 1973, dois anos depois da morte de Chanel, e é o mais próximo de um registro autobiográfico que se tem da moça. No ano passado, a editora francesa Gallimard o relançou.

O segundo é Coco Chanel: The Legend and the Life, cuja capa você vê aqui em primeiríssima mão. O livro só sai em setembro e é resultado de uma década de obsessão da jornalista e escritora inglesa Justine Picardie por Chanel. No Brasil, os direitos de publicação foram comprado pela Ediouro, mas ainda não há data prevista de lançamento. (cheque este blog para updates).

Entrevistei Justine para o artigo de Vogue, mas aqui ela fala um pouco mais sobre seu objeto de pesquisa.

Sissi – Há inúmeras biografias de Chanel. Por que você decidiu escrever uma nova bio e de que maneira o seu trabalho se diferencia e contribui para o conhecimento sobre Chanel?

Justine – Há mesmo várias biografias publicadas sobre Chanel, mas a maioria foi escrita há muitos anos - muitas têm mais de três décadas. A primeira vez que escrevi sobre Chanel foi em 1998, quando era jornalista do Telegraph, e desde então eu pesquiso sobre a vida dela. Senti que poderia oferecer uma outra dimensão de Chanel, em parte usando os arquivos da maison em Paris, aos quais me foi permitido acesso irrestrito, e em parte usando arquivos históricos no Reino Unido, documentos que nunca haviam sido examinados antes, que fornecem mais informação sobre a ligação de Chanel com Boy Capel e o Duque de Westminster, assim como a influência de ambos sobre suas criações. Também tive a oportunidade de descobrir informações sobre as atividades dela durante a Segunda Guerra nos arquivos da polícia e do serviço secreto, a maioria nunca antes examinada.

Sissi – Qual a dificuldade de se escrever sobre Chanel?
Justine – Muitas. Ela contou tantas versões diferentes sobre o seu passado e muitas foram repetidas como verdadeiras - mesmo sendo mentirosas. As ficções criadas por ela foram reportadas como fato e as ficções de outras pessoas sobre ela também adicionaram camadas ao mito. Essas histórias fictícias se propagaram, especialmente com a internet, e foram tão repetidas que as pessoas as acreditam verdadeiras quando, de fato, não há evidências sobre elas.

Sissi - Dessas passagens nebulosas, o que mais interessava a você esclarecer?
Justine – Havia tantas coisas que eu queria descobrir - e em outras eu simplesmente "tropecei". Tive muita sorte de poder me hospedar no convento de Aubazine, onde ela foi educada. As freiras me permitiram ficar no antigo monastério, ainda que o orfanato não exista mais. A atmosfera do lugar é extraordinária. Também me deixaram escrever no apartamento de Chanel, na Rue Cambon, o que foi altamente inspirador. Eu queria muito esclarecer a ligação de Chanel com os alemães durante a Segunda Guerra. As pessoas sempre dizem "ela teve um caso com um nazi", mas as coisas se revelaram muito mais complicadas do que parecem. Ela estava cercada de agentes duplos e eu espero que isso fique claro no meu livro.

Sissi – Uma das minhas maiores curiosiodades é saber justo sobre a vida de Chanel durante a Guerra. A família Wertheimer, dona da grife, se opôs em algum momento a essa etapa da pesquisa, preocupada talvez com o fato de manchar a imagem do duplo C?
Justine –
Não me encontrei com ninguém da família Wertheimer, mas todos da maison Chanel foram muito prestativos: todos os arquivistas do Conservatoire e, sem dúvida, o próprio Karl Lagerfeld, que sabe muito sobre Coco Chanel.

Sissi – Ainda assim, há perguntas para as quais você não encontrou resposta?
Justine –
Não consegui responder várias questões sobre a infância dela. Por exemplo, ela reviu o pai depois de deixar o orfanato? Eu simplesmente não sei.

Sissi – Como você organizou o livro?
Justine –
Os capítulos estão divididos em parte pela cronologia, em parte por tema. É uma maneira de cobrir tanto a iconografia como os períodos da sua vida.

Sissi - Você cobre o alegado romance entre Coco Chanel e Igor Stravinsky, tema do novo biofilme sobre a costureira?
Justine –
Sim, ainda que não exista qualquer evidência que de fato eles tenham tido uma relação física.

Sissi – Como você definiria o relacionamento entre eles?
Justine –
Acredito que era uma ligação intensa, mas longe de ser duradoura como as relações com Boy Capel e o Duque de Westminster. O livro de Chris Greenhalgh é um romance, o que dá a ele mais liberdade de imaginar o que se passou entre Chanel e Igor. Na verdade, Stravinsky jamais falou sobre o assunto. Temos apenas o relato de Chanel registrado por Paul Morand - o que é apenas um lado da história - e um ou outro comentário de Misia Sert.

Sissi – Chris Greenhalgh sugere que Stravinsky passou do modernismo para o neoclassicismo na música e Chanel descobriu o n. 5 graças a influência de um sobre o outro. Você concorda? Qual a importância de Stravinsky na vida/obra de Chanel e vice-versa?
Justine –
Não há dúvida de que Stravinsky tenha escrito obras importantes durante sua estada em Bel Respiro, mas ele já havia demonstrado se afastar do modernismo antes disso e parte das composições criadas na casa de campo de Chanel tinham ligação com a música tradicional da Rússia. Sobre o n.5: as ligações são intrigantes – por exemplo, a composição para cinco dedos de Stravinsky, feita na época, evoca o nome do perfume –, mas estão longe de serem conclusivas. Ambos tiveram outras influências de peso - e a segunda mulher do compositor nega a ideia de que Chanel tenha sido relevante. Imagino que ela tivesse ciúme, mas ainda assim vale a pena apontar. Também é bom considerar que Chanel foi apresentada a Ernest Beaux, o perfumista do n.5, pelo Duque Dmitri e não por Stravinsky.

Sissi – Quem tem mais physique du rôle para interpretar Chanel: Audrey Tautou ou Anna Mouglalis?
Justine –
Tautou se parece muito com Chanel jovem. Mouglalis é carismática.

Sissi – Como você vê Chanel?
Justine –
Como uma self-made woman, alguém que construiu uma fachada como quem faz uma vitrine para se proteger. Ela tinha uma aparência extraordinária, mas, mesmo depois de uma vida de sucesso e conquistas, ainda permanecia vulnerável. Nesse sentido, ela era uma mulher como qualquer outra.

Sissi – Num certo sentido, você deve sentir um alívio enorme de ter chegado ao ponto final. Ou não? Deu um vazio agora que o livro está pronto?
Justine –
Não consigo parar de pensar nela! Agorinha mesmo me peguei pensando que não falei o suficiente sobre a última noite em Marienbad e quis acrescentar informações na prova. Acho que eu poderia passar a vida escrevendo sobre Chanel sem jamais sentir que o trabalho está completo.

Sissi – Por fim, frivolidades: você usa Chanel?
Justine –
Sim, eu uso: n5, claro! Também admiro Karl Lagerfeld - a maneira como ele reinventou a grife e ainda compreende claramente a essência de Coco Chanel. Tenho um pretinho básico que já tem mais de uma década e ainda parece atual. E tenho também um casaqueto Chanel que uso quase todo dia com jeans...

4 comentários:

Paola disse...

Bárbara a entrevista, tô louca pra ler o livro!
Bjs Paola

Silvana disse...

É por essa e por outras que o seu blog é minha leitura obrigatória! Muito obrigada pela entrevista incrível!

Fabíola Paiva disse...

Parabéns pela entrevista! Gostei demais...
Fiquei curiosa para ver o filme e ler o livro!
Ahh! E ler a matéria na Vogue, claro! rs.
Sucesso sempre!
Beijos

vera siqueira disse...

Bela e esclarecedora entrevista! Vamos aguardar o livro, né?
Abraços,
Vera Siqueira