Christian Louboutin, em São Paulo: peep-toe Privé, um dos clássicos da marca junto com o escarpim Decolette 328, o melhor decote e o melhor bico do mercado
Diz o ditado que o 'bom bordado se conhece pelo avesso'. Isso vale para bordados e roupas, mas jamais tinha sido aplicado aos sapatos. É claro que a qualidade das solas e do acabamento de Manolos, Vallis, Hardys é indiscutível. Mas quando você olha o sapato de costas – ou do 'avesso' – ele não faz jus ao cabedal. É só uma sola, é 'menos', não foi pensada para aparecer. A história mudou quando Christian Louboutin entrou em cena em 1992.
Nascido em Paris em 7 de janeiro de 1964 (ele comemorou o aniversário no Rio com a amiga Beth Lagerdère, a brasileira que está entre as mulheres mais ricas da França), Louboutin sempre quis ser sapateiro. Desenhava loucamente no colégio. Sem um pingo de nostalgia e sim com curiosidade de criador, lamenta não ter guardado nenhum croqui. "Só para ver que ideias eu tinha na época", me disse num encontro na segunda, dia 9, no Hotel Emiliano. Ele veio a São Paulo promover a inauguração da primeira loja Louboutin na América Latina – e foi fotografado como celebridade pelas pessoas que o reconheceram circulando pelas obras do futuro endereço, no Shopping Iguatemi. Fiz uma entrevista sobre criação, mulheres e saltos que sairá na Revista Estilo e, claro, deixo na surpresa.
Adolescente, Louboutin nem sonhava com as famosas solas vermelhas que inventou meio de sopetão e viraram sua marca registrada. O 'como' e o 'porque', ele vem repetindo sempre, podem ser vistos numa entrevista a CBN no site dele (aliás, espirituoso como ele e finalmente no ar há cinco dias).
Fato é que essa epifania virou fetiche das mulheres. Qualquer mulher, anônima ou celeb. Quando ele colabora com as coleções de Stella McCartney e Diane Von Furstenberg, elas calçam os sapatos e caminham de lá para cá. Diane, amiga sua de longa data, faz questão de testar os protótipos, feitos no 7 1/2, um número menor do que o dela. "Diane diz, 'ai, esses sapatos estão estranhos' e eu respondo, 'não são os sapatos, querida, é você que está explodindo neles!' ".
Louboutin por Louboutin
Nos sapatos desenhados pelo sapateiro francês, há mais do que a sexy sola vermelha. Há saltos espetaculares, penas, pedras, strass que revelam uma personalidade dramática, que Louboutin mesmo diz oscilar entre o amor e o ódio. Para entender mais a cabeça desse criador, veja como ele se define.
Lugar favorito do planeta? Paris. Nasci no 12ème arrondissement (bairro de franceses remediados e pied-noires na margem direita do Sena, hoje cult) e hoje moro no 1er (área nobre da capital francesa). Na verdade, moro no meu escritório à espera de que meu apartamento em reforma fique pronto um dia.
O que faz você rir? O senso de humor dos outros, gente que não se leva a sério.
Comer, beber ou fazer dieta? Ah, os três! Primeiro você come bem, depois bebe bem e então entra num regime. Funciona sempre!
Convidados dos sonhos para um jantar? Minha mãe, Iréne, que morreu antes de eu abrir minha companhia. Ela nunca viu meus sapatos. E Marlene Dietrich.
Você cozinha? Sim, sou péssimo. Sou um cozinheiro de fases: a fase do limão siciliano, do tomate, do alho. Ninguém aguenta, só eu. Na verdade, sou um ótimo cozinheiro – mas só para mim mesmo.
Terra para andar com um salto alto ou mar para velejar no seu barco? O céu!
Enfim, é sobre o fetiche-Louboutin e otras cositas buenas que Ricardo Oliveros, do Fora de Moda, me convidou a falar. No blog, ele fez uma pesquisa de fotos para ilustrar a entrevista. Vale a pena!
Louboutin por Louboutin
Nos sapatos desenhados pelo sapateiro francês, há mais do que a sexy sola vermelha. Há saltos espetaculares, penas, pedras, strass que revelam uma personalidade dramática, que Louboutin mesmo diz oscilar entre o amor e o ódio. Para entender mais a cabeça desse criador, veja como ele se define.
Lugar favorito do planeta? Paris. Nasci no 12ème arrondissement (bairro de franceses remediados e pied-noires na margem direita do Sena, hoje cult) e hoje moro no 1er (área nobre da capital francesa). Na verdade, moro no meu escritório à espera de que meu apartamento em reforma fique pronto um dia.
O que faz você rir? O senso de humor dos outros, gente que não se leva a sério.
Comer, beber ou fazer dieta? Ah, os três! Primeiro você come bem, depois bebe bem e então entra num regime. Funciona sempre!
Convidados dos sonhos para um jantar? Minha mãe, Iréne, que morreu antes de eu abrir minha companhia. Ela nunca viu meus sapatos. E Marlene Dietrich.
Você cozinha? Sim, sou péssimo. Sou um cozinheiro de fases: a fase do limão siciliano, do tomate, do alho. Ninguém aguenta, só eu. Na verdade, sou um ótimo cozinheiro – mas só para mim mesmo.
Terra para andar com um salto alto ou mar para velejar no seu barco? O céu!
Enfim, é sobre o fetiche-Louboutin e otras cositas buenas que Ricardo Oliveros, do Fora de Moda, me convidou a falar. No blog, ele fez uma pesquisa de fotos para ilustrar a entrevista. Vale a pena!
Aqui, eu reproduzo só o ping-pong.
Fora de Moda O salto historicamente começou na Grécia por causa do teatro. Foi usado por reis na corte francesa para que eles parecessem mais altos. Tem uma função específica em sessões de SM. O que ele representa hoje?
Sissi No geral, é um misto de chiqueteza e de sensualidade de mulher adulta, a antiLolita. Nossa postura muda – muito e naturalmente – no salto alto pelo deslocamento do centro de gravidade. As pernas ficam mais torneadas, o bumbum empina, o peito se projeta para frente... Sem contar que dizem que a curva do pé num salto remete diretamente ao 'flex' do pé feminino na hora do orgasmo (por isso os SM tem uns sapatos de curvas absurdas). A chiqueteza vem porque, lá do alto de pelo menos mais sete centímetros, a vontade é de manter as costas retas, os ombros retos e o queixo paralelo ao chão – bem pose de majestade. Mas também depende do tipo de salto. Se for fino, stiletto, continua sugerindo sexo, perigo e ao mesmo tempo delicadeza: é Marilyn Monroe em forma de sapato! Se o salto for grosso, é uma imagem de poder, sem dúvida. Você pode pisar firme no chão, com segurança, ao contrário do tic-tic-tic do salto agulha, que sugere que a qualquer momento você pode desabar nos braços de um, digamos, John Kennedy. Por isso, em tempos de crise (pós-Guerra e agora, por exemplo), os sapatos viram quase acessório-armadura. Eu escrevi um post sobre isso no c'est Sissi bon .
Fora de Moda O que faz de um sapato de salto alto um objeto de desejo e de fetiche?
Sissi O salto alto, literal e metaforicamente, tiras os seus pés do chão. É um passaporte para a fantasia – e não só sexual, claro. Eu não domino nada do universo masculino, mas fico imaginando que o sapato de salto é para a mulher aquilo que o uísque era para Vinicius de Moraes e Humphrey Bogart: o cachorro engarrafado que, com duas doses, coloca você acima do resto da humanidade. A vida fica melhor, menos rasteira por assim dizer, lá de cima!
Fora de Moda Quais as características que devemos observar num high heels para saber que ele é de qualidade?
Sissi Como tudo na vida, há saltos e saltos. Um sapato alto e trash derruba uma mulher antes mesmo de ela caminhar. Acho que esses são os primeiros passos para acertar na escolha:
1. Como o arco do seu pé assenta na curva do sapato? Ele tem que arquear de maneira confortável e jamais flutuar sobre a palmilha.
2. O bico é de palhaço? Um bom sapateiro nunca permite que a ponta desencoste do chão. Tem uma engenharia para isso, por mais que o salto tenha 12 centímetros. Se o bico levantar como o dos sapatos de palhaço, só há uma conclusão: você vai ficar mais chic de sapatilhas.
3. Qual a cor da sola? Ninguém pensa nisso, mas eu cresci numa família de mulheres obsessivas por estética, cuja máxima para a vida era 'o bom bordado se reconhece pelo avesso'. De nada adianta você comprar um sapato-luxo, para a festa-baile, se a sola é aquela de couro natural. Imagine uma mulher de costas com a curva do pé à mostra nesse bege, que sugere informalidade? Sapato-luxo pede uma sola estudada com o mesmo primor do cabedal (a parte superior). Há uns oito anos a Dior apresentou peças com solado de strass (menos, é claro, onde se pisa). Por isso (e não só por isso), o Christian Louboutin é amado: o escarlate do solado é uma questão de acabamento e vale ainda para o dia e para a noite. Paula Ferber tem um solado de madeira escura que é pura finesse também. Enfim, a questão é que a sola deve estar adequada ao cabedal do sapato e ao ambiente/situação onde o par será exibido. E não é todo sapateiro que presta atenção nisso.
Fora de Moda Quais as dicas para quem não sabe andar de salto?
Sissi Crie intimidade com o sapato alto – ele é seu melhor amigo. Treine em casa. Ao caminhar, desloque uns milímetros o tronco para trás e baixe as escápulas, como se você estivesse numa aula de pilates. Com o tempo tudo isso fica tão natural quanto se maquiar depois dos 30. Ah, e sorria com tranquilidade. Afinal, você está duas doses de uísque acima da humanidade.
Fora de Moda Temos agora a chegada do Louboutin no Brasil. Quais são as peculiaridades de um Louboutin, além do vermelho?
Sissi Ninguém como Louboutin conseguiu transpor para o mundo da elegância o efeito sexo do salto alto. Os sapatos dele falam de prazer e de fantasia erótica sem parecer que saíram do universo pornô. É uma fantasia diferente da imaginada por Bruno Frisoni, na Roger Vivier, que é de luxo-alta-costura. Ou a de Manolo Blahnik, que tem uma imaginação rococó (desconfio que Maria Antonieta só teria Manolos). Louboutin domina como ninguém o decote do sapato: o comecinho dos dedos quase sempre aparece. Muita gente acha vulgar, como se equivalesse a mostrar o cofrinho numa calça jeans. Eu penso bem diferente. Para mim, é como um sorriso discreto numa paquera: uma promessa bem sutil de que a noite pode ser boa. Ah, Louboutin também é mestre nos bicos arredondados. Eles preservam a angulação de uma ponta de bico fino, que é algo mais adulto, com um redondo leve na ponta, mais menina. Nabokov aprovaria.
Fora de Moda Quais são os melhores criadores de sapatos hoje?
Sissi Tem muita gente fazendo belos sapatos, inclusive nas grifes. A Prada sempre tem invencionices que todo mundo deseja – pena que morram muito rápido. Eu prefiro comprar sapatos de sapateiros. Dito isso, não acredito que um seja melhor do que o outro. A gente é que tem de aprender a estudar quais são as forças de cada um. Eu acho bobagem, por exemplo, comprar sapatilhas Louboutin. Se você vai investir num único par na vida, que seja um escarpim com o bico levemente arredondado, chamado de Decolette 328. Manolo reina em sandálias altas de tiras finas, sempre delicadas e coquetes. Eu tenho amado Nicholas Kirkwood, que faz os sapatos-dominatrix do momento. Tem ainda Edmundo Castillo, com uma pegada retrô, lady. E Olivia Morris que, como toda boa moça, sabe o que as moças querem para a vida real. E Pierre Hardy, deus do sapato arquitetônico (ele assina também os Balenciaga). Mas meu sonho era ter uma vida em que eu usasse muitos Bruno Frisoni, seja a marca própria ou para Roger Vivier. Seria como ir ao mercado de Christian Lacroix alta costura.
Fora de Moda No seu perfil do blog tem uma máxima que é uma campanha para a melhoria das calçadas para que você possa andar livremente de salto pelas ruas.
Sissi Brinquei outro dia que a gente paga IPTU também para isso. Parece conversa de abilolada, mas moda e civilização andam juntas. De que adianta eu ter um Louboutin se eu dou um passo e perco o saltinho entre as pedras portuguesas (lindas, mas nada práticas), tropeço num buraco e arranho o verniz, se o solado de couro escorrega no porcelanato criminoso? Que melhorem as calçadas, os metrôs, enfim – para um mundo mais civilizado. Prefiro acreditar num planeta em que todo mundo suba no salto – no lugar de ter de descer dele. Se não ficar melhor, que seja pelo menos mais bonito.
Fora de Moda Em que situações pode se descer ou subir no salto?
Sissi Em termos de comportamento, nunca se deve descer do salto. Você pode desancar alguém sem perder a elegância, sem levantar a voz, sem recorrer ao pior palavreado do planeta. Um dia vão inventar o QG - quociente de gentileza, uma espécie de inteligência. Em termos de moda, saber descer do salto é fundamental. Ele não cabe em todos os lugares, todos os compromissos e todas as situações. Além disso, a graça da vida é a surpresa: ninguém quer transformar um Louboutin num feijão-com-arroz. O mais legal é variar os parceiros – pelo menos os dos pés.
ps. Jogando conversa fora depois da entrevista, Louboutin me disse que reparou que "as calçadas de São Paulo são difíceis". E que vai lançar em breve meia-sola vermelha para vender. Até então, as pessoas precisavam restaurar o sapato dele com a meia-sola tradicional. "Agora vai dar para esquecer o aquele preto horrível", disse.
Fora de Moda O salto historicamente começou na Grécia por causa do teatro. Foi usado por reis na corte francesa para que eles parecessem mais altos. Tem uma função específica em sessões de SM. O que ele representa hoje?
Sissi No geral, é um misto de chiqueteza e de sensualidade de mulher adulta, a antiLolita. Nossa postura muda – muito e naturalmente – no salto alto pelo deslocamento do centro de gravidade. As pernas ficam mais torneadas, o bumbum empina, o peito se projeta para frente... Sem contar que dizem que a curva do pé num salto remete diretamente ao 'flex' do pé feminino na hora do orgasmo (por isso os SM tem uns sapatos de curvas absurdas). A chiqueteza vem porque, lá do alto de pelo menos mais sete centímetros, a vontade é de manter as costas retas, os ombros retos e o queixo paralelo ao chão – bem pose de majestade. Mas também depende do tipo de salto. Se for fino, stiletto, continua sugerindo sexo, perigo e ao mesmo tempo delicadeza: é Marilyn Monroe em forma de sapato! Se o salto for grosso, é uma imagem de poder, sem dúvida. Você pode pisar firme no chão, com segurança, ao contrário do tic-tic-tic do salto agulha, que sugere que a qualquer momento você pode desabar nos braços de um, digamos, John Kennedy. Por isso, em tempos de crise (pós-Guerra e agora, por exemplo), os sapatos viram quase acessório-armadura. Eu escrevi um post sobre isso no c'est Sissi bon .
Fora de Moda O que faz de um sapato de salto alto um objeto de desejo e de fetiche?
Sissi O salto alto, literal e metaforicamente, tiras os seus pés do chão. É um passaporte para a fantasia – e não só sexual, claro. Eu não domino nada do universo masculino, mas fico imaginando que o sapato de salto é para a mulher aquilo que o uísque era para Vinicius de Moraes e Humphrey Bogart: o cachorro engarrafado que, com duas doses, coloca você acima do resto da humanidade. A vida fica melhor, menos rasteira por assim dizer, lá de cima!
Fora de Moda Quais as características que devemos observar num high heels para saber que ele é de qualidade?
Sissi Como tudo na vida, há saltos e saltos. Um sapato alto e trash derruba uma mulher antes mesmo de ela caminhar. Acho que esses são os primeiros passos para acertar na escolha:
1. Como o arco do seu pé assenta na curva do sapato? Ele tem que arquear de maneira confortável e jamais flutuar sobre a palmilha.
2. O bico é de palhaço? Um bom sapateiro nunca permite que a ponta desencoste do chão. Tem uma engenharia para isso, por mais que o salto tenha 12 centímetros. Se o bico levantar como o dos sapatos de palhaço, só há uma conclusão: você vai ficar mais chic de sapatilhas.
3. Qual a cor da sola? Ninguém pensa nisso, mas eu cresci numa família de mulheres obsessivas por estética, cuja máxima para a vida era 'o bom bordado se reconhece pelo avesso'. De nada adianta você comprar um sapato-luxo, para a festa-baile, se a sola é aquela de couro natural. Imagine uma mulher de costas com a curva do pé à mostra nesse bege, que sugere informalidade? Sapato-luxo pede uma sola estudada com o mesmo primor do cabedal (a parte superior). Há uns oito anos a Dior apresentou peças com solado de strass (menos, é claro, onde se pisa). Por isso (e não só por isso), o Christian Louboutin é amado: o escarlate do solado é uma questão de acabamento e vale ainda para o dia e para a noite. Paula Ferber tem um solado de madeira escura que é pura finesse também. Enfim, a questão é que a sola deve estar adequada ao cabedal do sapato e ao ambiente/situação onde o par será exibido. E não é todo sapateiro que presta atenção nisso.
Fora de Moda Quais as dicas para quem não sabe andar de salto?
Sissi Crie intimidade com o sapato alto – ele é seu melhor amigo. Treine em casa. Ao caminhar, desloque uns milímetros o tronco para trás e baixe as escápulas, como se você estivesse numa aula de pilates. Com o tempo tudo isso fica tão natural quanto se maquiar depois dos 30. Ah, e sorria com tranquilidade. Afinal, você está duas doses de uísque acima da humanidade.
Fora de Moda Temos agora a chegada do Louboutin no Brasil. Quais são as peculiaridades de um Louboutin, além do vermelho?
Sissi Ninguém como Louboutin conseguiu transpor para o mundo da elegância o efeito sexo do salto alto. Os sapatos dele falam de prazer e de fantasia erótica sem parecer que saíram do universo pornô. É uma fantasia diferente da imaginada por Bruno Frisoni, na Roger Vivier, que é de luxo-alta-costura. Ou a de Manolo Blahnik, que tem uma imaginação rococó (desconfio que Maria Antonieta só teria Manolos). Louboutin domina como ninguém o decote do sapato: o comecinho dos dedos quase sempre aparece. Muita gente acha vulgar, como se equivalesse a mostrar o cofrinho numa calça jeans. Eu penso bem diferente. Para mim, é como um sorriso discreto numa paquera: uma promessa bem sutil de que a noite pode ser boa. Ah, Louboutin também é mestre nos bicos arredondados. Eles preservam a angulação de uma ponta de bico fino, que é algo mais adulto, com um redondo leve na ponta, mais menina. Nabokov aprovaria.
Fora de Moda Quais são os melhores criadores de sapatos hoje?
Sissi Tem muita gente fazendo belos sapatos, inclusive nas grifes. A Prada sempre tem invencionices que todo mundo deseja – pena que morram muito rápido. Eu prefiro comprar sapatos de sapateiros. Dito isso, não acredito que um seja melhor do que o outro. A gente é que tem de aprender a estudar quais são as forças de cada um. Eu acho bobagem, por exemplo, comprar sapatilhas Louboutin. Se você vai investir num único par na vida, que seja um escarpim com o bico levemente arredondado, chamado de Decolette 328. Manolo reina em sandálias altas de tiras finas, sempre delicadas e coquetes. Eu tenho amado Nicholas Kirkwood, que faz os sapatos-dominatrix do momento. Tem ainda Edmundo Castillo, com uma pegada retrô, lady. E Olivia Morris que, como toda boa moça, sabe o que as moças querem para a vida real. E Pierre Hardy, deus do sapato arquitetônico (ele assina também os Balenciaga). Mas meu sonho era ter uma vida em que eu usasse muitos Bruno Frisoni, seja a marca própria ou para Roger Vivier. Seria como ir ao mercado de Christian Lacroix alta costura.
Fora de Moda No seu perfil do blog tem uma máxima que é uma campanha para a melhoria das calçadas para que você possa andar livremente de salto pelas ruas.
Sissi Brinquei outro dia que a gente paga IPTU também para isso. Parece conversa de abilolada, mas moda e civilização andam juntas. De que adianta eu ter um Louboutin se eu dou um passo e perco o saltinho entre as pedras portuguesas (lindas, mas nada práticas), tropeço num buraco e arranho o verniz, se o solado de couro escorrega no porcelanato criminoso? Que melhorem as calçadas, os metrôs, enfim – para um mundo mais civilizado. Prefiro acreditar num planeta em que todo mundo suba no salto – no lugar de ter de descer dele. Se não ficar melhor, que seja pelo menos mais bonito.
Fora de Moda Em que situações pode se descer ou subir no salto?
Sissi Em termos de comportamento, nunca se deve descer do salto. Você pode desancar alguém sem perder a elegância, sem levantar a voz, sem recorrer ao pior palavreado do planeta. Um dia vão inventar o QG - quociente de gentileza, uma espécie de inteligência. Em termos de moda, saber descer do salto é fundamental. Ele não cabe em todos os lugares, todos os compromissos e todas as situações. Além disso, a graça da vida é a surpresa: ninguém quer transformar um Louboutin num feijão-com-arroz. O mais legal é variar os parceiros – pelo menos os dos pés.
ps. Jogando conversa fora depois da entrevista, Louboutin me disse que reparou que "as calçadas de São Paulo são difíceis". E que vai lançar em breve meia-sola vermelha para vender. Até então, as pessoas precisavam restaurar o sapato dele com a meia-sola tradicional. "Agora vai dar para esquecer o aquele preto horrível", disse.
(foto Marta Santos)
13 comentários:
Olha , depois de ler e ver tudo conclui: tá na hora de você escrever um livro. Sua escrita, referências e os temperos de ironia são incríveis.
...que frase é essa gente: “a duas doses de uísque acima da humanidade”
E sim (!!!), não adianta gastar os tubos com sapato pra estragar eles na rua. Sou solidáríssima em achar que não é futilidade, é cidadania mesmo! E sim (2) quero um salto que incomode (como diz ele), que chegue antes, que seja sexy. Porque andar não andar acima do mundo nem que seja na prática?!
Esperarei a revista.
Abraço!
outra coisa: outro dia vi uma mocinha com um par lindo de sapatos, ela de costas, olhei para a sola e tinha uma etiqueta de loja, daquelas com codigo de barra e modelo... nunca esqueci disso.
solas importam.
eu já ia escrever do tanto que seu texto é bom, ai vi o comentário da andreza, enfim. faço minhas as palavras dela! escreve um livro!
Guria, esses sapatos são um luxo, a primeira vez que eu vi, nem sonhava quem era Louboutin, mas foi num filme com a Monica Belucci, e eu fiquei louca com aquela sola vermelha!
Adoro teus textos, tenho lido algumas revistas com eles, tu escreves maravilhosamente!
Como diria a Carrie: "Hello lover"... a matéria está extremamente fantástica! E olha que legal, ano passado meu grupo de sala de aula (faço Moda) apresentou um seminário sobre os reis Luízes e nós estávamos crentes que foi um deles (eu não lembro agora qual dos dois) que inventou o salto alto! Gente, ainda bem, mas ainda bem que ninguém citou isso. hehe... Muito interessante saber que o salto surgiu na Grécia!
Beijo e sucesso cada vez mais pra você e pra esse blog incrível, Sissi.
Aline
Vica, não consigo comentar no seu blog.obriagd apela leitura fiel! estou esperando sua foto do concurso h;a milênios! bjs
Aline, tentei agradecer no seu blog, mas não tem janela. Nem email. Podemos pedir a fonte pro Oliveros sobre saltos na Grécia. É bacana, não? bjs e obrigada!
Ótima a entrevista. E obrigado por me informar que, depois de duas doses de uísque, poderei me sentir de salto alto!
Beijos
Ótima a entrevista. E obrigado por me informar que, depois de duas doses de uísque, poderei me sentir de salto alto!
Beijos
Amada! Eu fiz Teatro e Dança na Unicamp e estudamos teatro grego. Os atores do coro (que faz os comentários da ação) usavam sapatos muito próximos das plataformas, porque além de aumentar a estatura, tinha uma relação entre altura, emissão da voz e acústica dos anfiteatros. Não tenho referência bibliográfica, só memória. Lembrei deste fato também porque há uns 2 anos atrás teve uma pequena exposição italiana no Conjunto Nacional sobre a história do sapato, e estas plataformas apareciam.
"moda e civilização andam juntas"
Amei a entrevista... definiu a realidade dos dias de hoje sem cair na futilidade.
Eu não sei o que há, a maioria das pessoas comenta sem problemas... não sei o que fazer.
Eu não consigo ter uma idéia que preste pra ganhar essa sandália. :(
Caramba! Não sabia que o Louboutin estava este tempo todo aqui no Brasil! Engraçado é que as pessoas que o fazem rir, parece ter o mesmo tipo de temperamento dele.
ótima entrevista.
bjokasssssss
è justamente a sola vermelha o detalhe importantíssimo do Louboutin que absolutamente detesto, acho algo desnecessário e caricatural, algo extremamente expalhafatoso, e carnavalesco, não faço a menor questão de ter uma par dele, honestamente, sem sombra de dúvida para mim o bom gosto real e chique é o de Roger Vivier
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