Abigail K. Rutherford no closet lotado de vintage, em Chicago: expert em tesouros escondidos nos rincões dos Estados Unidos. (foto: Nicole Radja, TimeOut)
Há algo de novo no ar. E não tem cheiro de mofo. Uma nova onda de interesse pelo vintage, com V maiúsculo, está extrapolando o tapete vermelho – culpe a crise, se quiser, e sua capacidade de nos fazer focar no que é bom, em oposição ao que é novidade.
Veja no fim desse post os sinais da preferência por algo excepcional, exclusivo, com valor de obra de arte. São os looks que apareceram na festa que está se tornando a maior passarela de Nova York: o baile anual do Metropolitan Museum, marco da abertura da exposição de verão do Costume Institute, braço do museu criado por Diana Vreeland dedicado à moda. (a expo desse ano é
Model as a Muse. Veja na barra ao lado).
Por essas e outras é que nos últimos anos, casas de leilão se transformaram no
ultimate shopping space para as fashionistas. Sobre isso eu escrevi uma matéria para a Vogue de maio – leia e atualize seu closet.
Entre as minhas fontes está Abigail K. Rutherford, 27 anos, formada em História da Arte e com flerte, sem compromisso, em pós em Moda. Desde 2006 ela toca a área de Vintage Couture e Acessories da casa de leilão Leslie Hindman, uma das poucas nos Estados Unidos a focar muito em moda. Leslie Hindman se dedica principalmente aos estilistas norte-americanos – Roy Halston, James Galanos, Norman Norell. O que não significa excluir todos os outros estilistas do planeta moda.
A função de Abigail é encontrar esses tesouros perdidos nos armários de socialites Estados Unidos afora. Numa cidadezinha do Michigan, Abigail encontrou Paul Poiret e Irmãs Callot, ambos gigantes da era pré-Chanel. "Ninguém imagina existir um acervo tão cosmopolita num lugar tão remoto, mas essa senhora viajava todo ano para Paris para refazer o guarda-roupa", conta Abigail.
No que investir? O que avaliar? Como usar? O que reformar? Essas e outras perguntas Abigail responde aqui:
1) Para começar, descubra seu estilo relacionando-o a uma década. Ajuda a refinar a busca quando você sai às compras num brechó, numa casa de leilão, na internet. Por exemplo, uma garota mais feminina deve se interessar mais pelos 1950s; uma garota mais
edgy, mais punk, vai atrás dos 1980s e 1990s; para uma garota boho, obviamente os 1970s fazem muito mais sentido.
2) A partir da década, relacione os estilistas. Se você é mais avant-garde, a moda futurista de Thierry Mugler deve servir como uma luva. Se você é mais clássica, a feminilidade refinada de Balenciaga é perfeita.
3) Encontre uma ótima lavanderia e costureira, ambas especializadas em peças mais antigas. Eu vi peças maravilhosas serem destruídas por maus cuidados na limpeza e no conserto.
(nota da Sissi: em São Paulo, lavei meus Dener na lavanderia Sampaio, tel. 3782 4974, na Raposo Taavares). 4) Agora que você está pronta para comprar, é importante encontrar um lugar confiável. É costurar uma etiqueta original numa peça falsa e por isso você deve tomar cuidado ao comprar em lugares como eBay. Sempre recomendo comprar em casas de leilão – é como uma loja, só que sem o mark-up! Leilões são um comércio justo e o preço costuma ser mais próximo daquele do atacado.
(nota da Sissi: no eBay, uma loja confiável é a Ricky's Exceptional Treasures. No Brasil, o e-closet traz peças selecionadas entre as amigas-margaridinhas de Giovanna Lemes Motta.)5) Não se fie à numeração das peças. O tamanho era muito diferente – por exemplo, o 10 equivale hoje ao 4/6 (= 38/40). Se não há como provar a peça, solicite as medidas-chave.
6) Inspecione cada item por dentro e por fora. Tedemos a nos esquecer que as peças vintage foram usadas e têm manchas, buracos de traça ou marcas causadas por armazenação incorreta.
7) Trocar zíperes, subir barras, realinhar uma peça não são consertos complicados e têm um impacto final no preço.
8) Não enlouqueça e use muito vintage. Vai parecer que você está usando um figurino para um filme.
9) Não despreze o maravilhoso mundo do armário da mãe e da avó. Eu mesma encontrei muitos dos meus acessórios favoritos nesses baús da família.
10) Se não serviu, mas você ama a peça de paixão, compre um manequim e exiba o modelito. Moda é uma forma de arte que mostramos no corpo – por que não mostrá-la em casa?
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Stella Tennant de Helmut Lang,
à esquerda.
Katie Lee Joel, de Alfred Bosan.
Dasha Zhukova, de Prada.
Amber Valletta, de James Galanos.
Marisa Tomei, de Adrian.
O melhor look vintage:
Natalia Vodianova, de Fortuny.
E o pior erro (ver item 8): Cheryl Tiegs de vintage dos pés a minaudière (vestido Norman Norell, joias Neil Lane e Judith Leiber minaudière). As peças são lindas, mas juntas fazem parecer que ela não tem um armário, mas um museu.
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