terça-feira, 15 de abril de 2008

De salto alto? Essa descrição não basta





Desfile de Antonio Berardi, inverno 08-09, e sapato Trompe l´Oeil, de Andre Perugia, 1937: qualquer semelhança talvez seja mera coincidência.



Salto abridor de rolha e pé-com-pé, ambos de Perugia: o surreal sempre andou lado a lado com a moda.




Sandálias de salto gaiola e Invisível, Salvatore Ferragamo: loucurinhas da década de 1940 que valem hoje, sim?




Salto de Marc Jacobs, coleção verão 08: sim, todo mundo já viu, mas alguém sabe como chamar esse salto bêbado? O nome só pega se a moda pega - sem nome, significa que foi só um delírio. Bem-vindo, sem dúvida, mas delírio, não?





Annabella, a razão do nome salto anabela, no dia do casamento com Tyrone Power, em 23 de abril de 1939 (daqui a 8 dias, 69 anos atrás!): tea dress típico da época, mas nada do salto inteiriço nos pés. Estes, só nas "férias" cariocas!


(Desculpem, estou numa fase introspectiva-livros e revendo/relendo coisas que a gente esquece que leu.) Enfim, fui devolver a bio de Carmen Miranda, por Ruy Castro, à prateleira e abri numa página qualquer. Buenas, nada mal para uma roleta russa, uma coisinha assim aleatória, já que saltos - ou a ausência deles - são a recentésima obsessão da moda.

Na biografia da mulher que infernizou o sapateiro para inventar as plataformas (e, assim, parecer mais alta do que os exíguos metro e meio) também descobrimos uma versão para o nome do salto anabela. Castro "culpa" a popularidade no Brasil da atriz francesa Annabella, que passou 40 dias circulando pelos salões da alta sociedade carioca acompanhada de Tyrone Power, galã número um da Fox, e de sapatos com saltos inteiriços. Annabella era o álibi do estúdio para dissipar rumores de que Tyrone seria homo, no máximo bi. (No ano seguinte, 1939, eles se casaram). Mas esse mês e meio entrou para nosso closet com o salto que as cariocas, na época, batizaram de salto Annabella.

Eu fico imaginando, nesses 2008 com sapatos que sofrem de crise de identidade (não são botas nem sandálias, não são sapatos nem chinelos - são tudo-ao-mesmo-tempo-agora), como vão chamar, numa única palavra, o salto bêbado de Marc Jacobs, a meia-pata esquizofrênica de Antonio Berardi? Já pensou você na ala nova de sapatos da Saks tentando descrever o que você quer comprar?

Parece que todo mundo entendeu o que o designer Bernard Figueroa disse na década de 1990: "Há muito espaço para aproveitar entre o calcanhar de uma mulher e o chão" - nesse caso, bem aproveitados com saltos que pareciam gravetos banhados a ouro. Mas eu desconfio que o autor original de saltos loucos - mas não mortais e impossíveis de calçar como os chapins (também chopines) venezianos do século 15 (lembra que a Sta. Ephigênia reprisou, no inverno 2007, esses tamancões feitos para as mulheres não caminharem, como se fossem uma espécie de cinto de castidade?) - tenha sido Andre Perugia. Se vale a máxima 'diga-me com quem andas e eu te direi quem és', os amigos de Perugia dizem tudo: George Braque, Elsa Schiaparelli... Esse francês se divertiu e foi surreal na sua área de fetiche maior: os pés femininos.

Dito isso, o que eu acho que vale a pena ver (e usar) de novo é a anabela F de Salvatore Ferragamo na sandália invisível (meu sonho de consumo, junto com os sapatos da Dorothy de O Mágico de Oz) e a sandália de salto gaiola da grife italiana - ambas do tempo em que Carmen fazia tchica-tchica-bum-tchi. Louquinhas, mas totalmente possíveis. E totalmente agora.

2 comentários:

lumefa disse...

there's no place like home, toc, there's no place like home, toc, there's no place like home, toc!!

eu queria me formar de dorothy pós-moderna, de vestido-jardineira azul, camiseta branca e bota cano longo vermelho, não consegui, sabe por que?
não era moda na época, bota de cano alto colorida, então, NINGUÉM havia produzido...

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado