domingo, 27 de abril de 2008

Pierre Bordieu I

Em 1972, o filósofo francês Pierre Bourdieu escreveu o ensaio O costureiro e sua grife - Contribuição para uma Teoria da Magia. É aqui que ele lança a pergunta:'como uma maison sobrevive à morte do criador?'. Não sei se é uma questão de tradução ou se ele escrevia em sociologuês apurado (foi professor da matéria no Collège de France), mas o texto é enrolado de ler. A idéia, no entanto, permanece atual.

"A morte do criador, que já tem levado muitas maisons, mesmo entre as maiores, a desapareceram (como Lucien Lelong, que fechou as portas em 1948, ou Jacques Fath, em 1954) ou sobreviverem apenas por alguns anos, constitui uma provação decisiva: diretor de uma empresa de produção de bens simbólicos, o costureiro fornece eficácia à alquimia simbólica na medida em que ele próprio garante, à maneira do artista, todos os aspectos da produção do bem dotado de uma marca, isto é, a produção material do objeto e a espécie de promoção ontológica que lhe é prodigalizada pelo ato da criação. Na maior parte das vezes, essa provação só poderá ser superada mediante a partilha, entre várias pessoas, das funções indivisas do criador: por um lado, o presidente geral ou um simples executivo remunerado; por outro, o 'responsável pela criação', título que reúne em uma magnífica aliança de palavras o vocabulário da burocracia racional, isto é, da delegação e do carisma que encontra em si seu próprio fundamento. Este criador substituto, espécie de vigário de gênio, deve - como seu título indica - enfrentar as exigências antitéticas de uma posição contraditória.
Os 'respnsáveis pela criação' têm sempre um itinerário complicado e retrógrado (diferentemente dos fundadores de maison): assim, Marc Bohan, oriundo da maison Piguet, volta a maisons mais antigas, como Molyneux e Patou, antes de entrar na maison Dior, em 1958; o mesmo acontece com Gérard Pipart, estilista que entra na maison Ricci, em 1962, com Michel Goma que ingressa na maison Patou, ou com Jean-François Crahay na maison Lanvin.
Estas exigências podem se revelar, no limite, insustentáveis, quando o criador deve criar, isto é, afirmar a unicidade insubistituível de seu estilo e, ao mesmo tempo, entrar na unicidade não menos insubstituível, mas que ele tem o encargo de substituir:
"Há três meses, Gaston Berthelot, nomeado de um dia para o outro responsável artístico da maison Chanel - em janeiro de 1971, depois da morte de Mademoiselle - foi rapidamente demitido. Alguma explicação oficial? Nenhuma: seu contrato não foi renovado. Comentário de bastidores: ele não teria conseguido impor-se. É preciso dizer que a discrição natural de Gaston Berthelot (...) foi fortemente encorajada não só por sua diretoria - nada de entrevistas, nem alegações ou promessas -, mas também pelos comentários de sua equipe diante de cada uma de suas proposições. Será que o modelo era conforme, fiel e respeitador? 'Para isso, não é necessário um modelista; pega-se os velhos tailleurs e recomeça-se...'. Mas, diante de uma nova saia ou de um bolso modificado: 'Mademoiselle jamais toleraria isso'." Mais comment peut-on remplacer Chanel?, ELLE, 23 de julho de 1973.

2 comentários:

Anônimo disse...

ola sissi, sim mandei p essas grandes redes e ja ate fiz entreista na cea mas nao consegui nada!
Mas vou continuar tentando!
bjoss!

Carol Delgado disse...

Oi Simone, bom saber que vc tb gosta de bourdieu, ele é incrível, vale dar uma olhada no livro "A Distinção", aliás, quase tudo do que ele escreveu se encaixa no nosso momento atual moda+consumo+linguagem