quinta-feira, 18 de março de 2010

Magreza é bom que não engorda

Eu acho curioso que todo mundo condene a "magreza das modelos", repetindo isso como um mantra-clichê, que perde o sentido quanto mais vezes é repetido. Como se a indústria da moda fosse uma ditadora cruel do look campo-de-concentração sozinha, como se nada ao redor valorizasse o padrão mais osso, menos carne.

O que falta é analisar o porquê do nosso gosto cultural por tudo o que é magro. Magreza (e as linhas agudas, anticurvas, que ela produz), defininda de um jeito superficial, é a expressão estética de um senso de valor que determina a rapidez/agilidade como máximo.

Velocidade, se sabe, passou a ser valorizada no começo do século 20, quando a luz elétrica seguida do cinema seguido do automóvel introduziram um apreço sem igual por tudo o que é veloz (quem é gordo é devagar).

É de se surpreender que o art déco _ com suas linhas retíssimas, que não perdem tempo fazendo curvas como baratas embriagadas por baratox (merci, níquel náusea)_ seja a grande expresssão estética dos anos 20? Os anos fordianos, os anos do LBD Chanel e de Josephine Baker e sua cheetah de coleira?

Não.

É a natureza dominada pela mecanização e reprodução em série, pelo artificial, prático e rápido - pela linha que corre de um ponto a outro sem desvios - ou sem gordura, para ficar no campo semântico da dieta (é assim que se fala, madame mimi?)

O que a obsessão pela magreza tem a dizer sobre que tipo de valores cultivamos? É isso que ninguém aponta claramente.

Por favor, alguém entreviste Umberto Eco, teórico do feio e do belo em dois livros magistrais. Vamos de fato discutir a magreza na moda como um reflexo do tempo.

O resto é manchete barata.

7 comentários:

andreza felix disse...

se tem uma pergunta que eu valorizo é : o que isso quer dizer sobre? Nao nos isenta e nos coloca no centro da discussão também - incluídissimos!!
gostei muito da sua análise pelo viés da tecnologia-arquitetura( e ainda cabem tantas, tantas outras) mas dentro deste veloz tem o tempo que se esvaiu com a velocidade da luz que tratamos de descobrir
Ora porque adoramos a velocidade da luz talvez destemos o tempo daí essa nossa ogeriza contemporânea à passagem dele
A magreza aí, pode ser também essa sede louca por juventude tão anos 2010



adoro o niquel nausea é dos meus quadrinhos preferidos!

Flor de Bela Alma disse...

Querida, aqui ainda escreve Bianca
do café bacana. Outro dia falei de vc
defendendo que a moda tem muito a
dizer
quando percebemos ela como um
discurso, ou como dizia Lacan em
O avesso da psicanálise -vestir pode ser um discurso e nesse sentido podemos aproximar a moda não somente das estéticas como
da ética . Adoro o Umberto Eco! Precisamos desse olhar mais profundo e corajoso para pensar aquilo que veste e reveste! Vamos combinar nosso café enfim?! Falei de vc e minha amiga Fabiola disse que conhecia vc. Ela foi casada com o beto boombig e foi sua vizinha. Ela disse ; Bianca, vc podia conhecer uma menina
que compartilha de olhares parecidos com o seu e chegamos a conclusão que era vc! Risos! Amei sua entrevista moda e arte e queria conversar sobre! Podemos? Beijo;Bia

Mônica disse...

Gostei muito da sua abordagem pelo viés tecnológico/arquitetônico e dessa tentativa de dominação da natureza. Há algum tempo atrás escrevi sobre o assunto, com outro enfoque. Talvez dialogue com seu post: http://migre.me/pIfM Abraços!

Marília disse...

Fantástico, Sissi.

sempre achei bem hipócrita esse papo de "as modelos estão magras demais"... mas nunca tinha parado pra formular um argumento do porquê acho isso, era só uma sensação, mas agora totalmente transposta às palavras.

quando me envolver nessa polêmica agaaain, nem vou me cansar, vou só passar o link desse seu post.

muito, muito bom.

sou fã.

Anônimo disse...

Sinceridade...nunca vi tanta elucubraçao non sense da parte de quem escreveu e de quem comentou. Que grande importância tem saber onde se originou a necessidade da magraza das modelos. Eu q ñ sou de meio desconfio q é do cabide, ou seja, as modelos ñ passam de um objeto ñ mao dos estilistas para exporem seus modelitos, e ponto final. Agora como o marketing influencia na sociedade como um todo e daí criando doencas sérias como anorexia e bulemia(magras sem DNA) o Estado entra com seu papel de administrador de uma politica de saude pública, com a finalidade de reverter essa paranóia. Simples assim...ñ precisa Lacan e etc. Nao inventa ciencia aonde ñ existe, modo é moda e q bom que seja assim.

senhorita sartori disse...

vc sempre com um ponto de vista surpreendente. Vc tinha q ser professora Sissi!

senhorita sartori disse...

esqueci de falar. Eu queria vc na Folha.