quarta-feira, 24 de março de 2010
Suzy Menkes sobre Pierre Cardin, 60 anos de moda
De 22março, no NYT:
Pierre Cardin: One Step Ahead of Tomorrow
By SUZY MENKES
PARIS — It is 60 years since Pierre Cardin, fashion’s eternal futurist, opened his Paris fashion house; half a century since he first brought his designs to a desolate, postwar Japan; and more than two decades since he pioneered fashion in China, becoming such a cultural super star that he was watched by this journalist in Beijing in 1993 being cheered and smothered with bouquets of flowers.
But face to face, Mr. Cardin is short on reminiscences about Mao jackets and bicycles and minimizes the historic forward march of his long career. There is only one subject that really interests this 87-year-old designer: What is he doing for tomorrow’s world?
“When I started 60 years ago, the fashion I was drawing was something strange — people said I was crazy and they never wanted to wear my clothes,” said Mr. Cardin, signing copies of his commemorative book at Maxim’s, the historic Parisian Belle Époque restaurant, that he owns and has turned into a global brand.
“My way was to draw something of the future — to be young, to see that a woman could be free,” said Mr. Cardin. “I wanted to give women in the 1960s a chance to work, to sit, to take the car and drive in my dresses.”
The new architecture that the designer built to express the physical and mental emancipation of women is vividly illustrated in “Pierre Cardin, 60 Years of Innovation,” written by Jean-Pascal Hesse, his long-term collaborator, and published by Assouline.
The 1960s dresses, square-cut to free the body, but with all sorts of circular cutouts and satellite sleeves spinning in orbit round the arms, are icons of the space age. The alien innocents in their aviator helmets, miniskirts and colorful hose, expressed the explosion of a new youth culture.
The landmark Cosmos collection of 1964, with tunic and hose for both men and women, was a confident statement about unisex clothing. It anticipated the masculine/feminine fashion standoff that dominated the second half of the 20th century.
There are iconic pieces: the 1968 minidresses in “Cardine,” an early experiment with techno fabric; a circular 1969 vinyl raincoat; or even a felt 1971 envelope hat. Perhaps the most striking thing about the designs is not their sharp angles and compass twirls. It is that they could all walk right out on the street today and not seem out of place.
In fact, today’s students seem to be catching up with Mr. Cardin’s style. During London Fashion Week last month, there was a dominance of 3-D dresses with angular cuts, created, as if they were the designer’s disciples, by the class of 2010 at Central Saint Martins college of art and design.
“I have a very big respect for English design, because they are provocation, and when you provoke, something stays after,” says Mr. Cardin.
Yet his own fashion training was a conventional apprenticeship in haute couture, where he learned his precise cutting skills. After a tough childhood, as his parents, escaping Italy’s Fascist regime, settled in France in 1924, “Pietro Cardin” was apprenticed to a tailor and then worked at the houses of Paquin, Schiaparelli and Christian Dior. He remembers the artistic milieu when he worked with the decorative artist Christian Bérard to design costumes for Jean Cocteau’s legendary 1946 movie “La Belle et la Bête” (Beauty and the Beast).
But the radical designer was never comfortable inside a shell of couture gentility. He scandalized the fashion world when he introduced ready-to-wear clothes in 1959 — for which egalitarian gesture he was flung out of the Chambre Syndicale, couture’s ruling body.
From then on, Mr. Cardin was considered a maverick and an outsider, criticized for creating furniture that looked as though it were extruded from a space ship (although he explains that he would “buy the tree, cut the wood and make the drawing.”) The designer was berated for building an empire on licenses for anything from men’s shirts to a frying pan — even though it made him a fortune, which he invested in classic French real estate, including the Marquis de Sade’s castle in the Lubéron district. There he holds annually one of his many cultural events.
“I am presenting ‘Casanova,’ a comedy musicale in the Place San Marco in Venice next July,” says Mr. Cardin. “And last year I made ‘Marco Polo’ in China. I try to make my life enjoyable.” He was referring to a ballet about the exotic travels of the medieval explorer Marco Polo, interpreted by the Shanghai ballet to usher in the Chinese Lunar New Year.
The boldly illustrated book, with its images of the colorful circle furniture and of the visionary zippered-jersey masculine sportswear, is a monument to the Pierre Cardin oeuvre. But the designer’s legacy is also about his visits to China and his early vision of fashion’s dormant dragon, which he helped to awaken. Subsequently he has pioneered other areas, showing collections in front of 200,000 onlookers in Moscow’s Red Square in 1991 and opening up Vietnam in 1993. His aim is always, even in his late ’80s, to appeal to the next generation.
Perhaps the most interesting angle on the Pierre Cardin legacy is its current relevance, as viewed by a designer who was not even born when the geometric futurism was created.
Louise Goldin, 30, a graduate from Central Saint Martins, found a Cardin image of an outfit, paneled in leather, during research for her autumn 2010 collection.
“It is beautiful and it still looks so futuristic — and that is the way I have been working,” says Ms. Goldin. “I like to challenge myself. There were a lot of elements of 3-D. But that is the moment we are in. His images still look so incredibly modern.”
Mais sobre, na matéria que eu publiquei na edição de janeiro 2010 de Vogue.
No mundo da lua
Livro refaz os 60 anos da viagem cósmica de Pierre Cardin, o criador futurista que deu sentido a palavra designer.
Por Simone Esmanhotto
Tem um clichê a que o mundo da moda adora recorrer: "existe um antes e um depois de fulano de tal". Bem aplicado, o raciocínio vale para Coco Chanel, para Yves Saint Laurent e até para o neófito Alexander Wang, mocinho que reconheceu a dinâmica da vida hipermoderna e injetou o lado salto alto no esporte e no moletom. E vale, sem dúvida, para Pierre Cardin que, do alto dos seus 87 anos, comanda há seis décadas a marca própria – uma trajetória sem igual revista em Pierre Cardin: 60 years of Innovation (Assouline, 75 dólares). "Cardin foi pioneiro na criação de um look escultural, arquitetônico, com uma sensibilidade futurista", diz Jean-Pascal Hesse, autor do livro e diretor de comunicação da maison Cardin há 15 anos.
A questão é qual o antes e depois de Cardin para a moda? Com 120 imagens distribuídas em 200 páginas, o livro seduz a ponto de qualquer um jurar piamente que é a estética. Mas, quando eu avisto, a caminho desta Vogue, um taxista de um ponto nos Jardins com um jeans bem índigo e a assinatura Pierre Cardin em fio alaranjado pespontada num dos bolsos de trás, meu hunch diz outra coisa. Por mais imperdível, lindo e necessário de se conhecer que seja o look Jetsons de Cardin, ele é uma das pontas do triângulo amoroso da moda com a corrida espacial da década de 1960 – as outras duas ocupadas por André Courrèges e Paco Rabanne. O que faz dele único é ter transformado seu nome em marca, um pequeno passo para o homem mas um gigantesco salto para a moda. Se Chanel abriu as portas do closet feminino para a modernidade e Yves Saint Laurent criou o figurino da liberação dos estereótipos sexuais, foi Cardin quem permitiu ser possível comprar hoje um lençol Alexandre Herchcovitch ou um míni Reinaldo Lourenço para C&A. "Eu queria que meu nome se tornasse uma grife, não apenas uma etiqueta", declarou.
Seu desejo, hoje parte do ar que a moda respira, virou a base de um império bilionário, que engloba das roupas aos móveis, passando por hotéis e até o lendário restaurante Maxim's, em Paris. Mas em 1959 – ano da primeira coleção prêt-à-porter feminino de Cardin (e do mundo), desfilada da loja de departamentos Au Printemps – deixar de ser uma etiqueta significava deixar de circular apenas nos grandes salões. "Essa forma de distribuição e diversificação era o caminho lógico para um costureiro que acreditava que o direito ao luxo não deveria ficar restrito a uma elite e sim ser aproveitado por milhões de mulheres", diz Elisabeth Längle, autora de Pierre Cardin: Fifty years of Fashion and Design (Thames and Hudson). CArdin estava anos-luz à frente dos pares. Esnobe por definição e feliz por estar confinado à pequena roda da alta sociedade, o clã da alta costura ficou siderado. Cardin foi criticado por explorar (no mau sentido do verbo) seu nome e diminuir o prestígio do métier. "Ele quebrou as regras do jogo e abriu caminho para o consumidor atual, que é vidrado em design." É lenda, segundo o jornalista Richard Morais, autor de Pierre Cardin: the Man who became a Label (Batam), a história de que Cardin teria, por isso, sido expulso da Câmara Sindical. Ele saiu por conta própria depois de quebrar a regra de restrição à cobertura dos desfiles pela imprensa.
Nascido em 1922 em Sant'Andrea di Barbarana, nos arredores de Veneza, e criado no interior da França, Cardin sempre foi um visionário. Antes de abrir a própria maison, passou por ateliês de gente tão avant-garde quanto ele. Primeiro como aprendiz no ateliê de Jeanne Paquin (1869-1936), a primeira costureira a levar os desfiles para onde estava a clientela. No caso do verão, de Paris para Longchamps ou Chantilly. Depois, veio a passagem-relâmpago por Elsa Schiaparelli, que abalou a noção de chic com doses espetaculares de sportswear e surrealismo. Por fim veio Christian Dior, com quem Cardin foi trabalhar logo no começo do ateliê que ressuscitou a alta costura varrida do mapa pela Segunda Guerra. Quando todos os costureiros se limitavam a assinar perfumes, Dior ousou licenciar seu nome em meias. Foi criticado por explorar (no mau sentido do verbo) seu nome e diminuir o prestígio do métier, mas mostrou a Cardin qual seria o verdadeiro new look da moda. Com um visão redonda do mundo – ele já declarou amar o círculo, "um símbolo da eternidade. Sou um Pierrot Lunar fascinado pelo universo. A lua, o Sol, a Terra são criações puras, sem começo nem fim", disse – Cardin entendeu que não havia limites para a criação e que ela andava de braços dados com o negócio. Seu olhar deu formas geométricas a roupas, acessórios, pufes e tudo mais o que um designer – e não mais um costureiro e não simplesmente um estilista – poderia inventar. E levou seu desenho até mesmo para o jeans do taxista dos Jardins. Depois de Cardin, a moda virou o universo em expansão.
Veja o slideshow
E o vídeo.
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2 comentários:
Gostei do texto, muito informativo e agradável. Complementado pelo slide e o vídeo...ficou demais!
Abraço,
Vera (de Brasília)
fantástico post. Quero esse livro.
gostei da analogia do triangulo, mas paco rabanne tb fez de seu nome uma grife, não? Courreges é que permaneceu mais hermético, pelo menos por aqui...
foi publicado??
muito bom, adorei.
bjs
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