Elsa Schiaparelli e os sapatos que nos sobem à cabeça!

Quando Christian Louboutin veio a São Paulo jogar os holofotes sobre a abertura da loja no shopping Iguatemi, a Laura postou uma pergunta aqui sobre as famosérrimas solas vermelhas do sapateiro francês.

Louboutin conta que teve a ideia de supetão (eis o que ele me disse na época, em entrevista para a Revista Estilo).

"(a sola vermelha) Só me ocorreu na terceira coleção. Estava na fábrica na Itália com um protótipo nas mãos e o croqui do lado. Embora tivesse todas as características do desenho, a peça piloto era infinitamente pior. Porque os desenhos são sempre muito melhores do que a realidade. Você aumenta as pernas de uma mulher, distorce para ficar uma obra de arte. Olhei, olhei e vi aquela sola preta, pesada, sem graça. Então, peguei o esmalte da minha assistente e comecei a pintar a sola. O vermelho deu forma ao sapato e também virou um elemento de conexão entre as pessoas. As mulheres começaram a me dizer que estavam sendo cantadas por homens como nunca! Pode ser uma sola vermelha, mas ela funciona como um sinal verde..."

Laura se lembrou de ter visto um desenho de Elsa Schiaparelli (1890 - 1973), a costureira contemporânea às décadas déco Chanel.

Atenção: Schiap é inspiração de Stefano Dolce & Domenico Gabbana e até de Rei Kawakubo. Camisetas trompe l'oeil, ideia original dela de 1927 – um suéter de tricô com o laço feito na trama – , já estão à venda. É bom entrar em compasso com o legado dessa italiana.

Elsa Schiap.


E Laura se/me perguntou se Louboutin não tinha se inspirado num desses esboços de chapéus-sapato:


Esboços de chapéus e forma de sapatos, maison Elsa Schiaparelli, 1937, pensados junto com Salvador Dalí.




Chapéu-sapato, inverno 1937/1938: o solado vermelho não aparece aqui, mas há registros de um versão com o solado do salto em escarlate. (acervo Met, doação de Rose Messing em 1974).

Schiap adorava sapatos e não tinha limites para reinventá-los. Usou jornal e fibra de coco para fazer modelos cheios de interessância e até pelo de macaco (quem viu Margiela verão 2009 e achou original pode rever e entender que o belga aprendeu muito com a história da moda sobre ser surreal):


Botas de camurça e pelo de macaco, de André Perugia (esse era um gênio da sapataria e merecia algo publicado) para Schiap: verão 1938. (acervo do Philadelphia Museum, doado por Elsa Schiaparelli em 1969).


Enfim, a criação é um mistério. Talvez Louboutin tenha visto esse croqui de Schiap em algum momento da vida e isso tenha ficado armazenado no seu HD. Ou não. Mas desconfio que ele não teria problemas em dar o crédito.

De qualquer forma, o que vale é que Laura mexeu na memória da sapataria. E ela já foi muito mais louca do que supõe o nosso (bom) gosto jacobsniano.