Muita gente me pergunta por que falo, no meu perfil (aí ao lado), que sou defensora de calçadas perfeitas "para batermos (sem machucar) nossos saltos Louboutin".
Ou Manolo, ou Hardy, ou Ferber, como queira.
Não vejo moda sem cidade (por isso Milene Chaves é minha nova heroína. Se a gente se apropria do espaço público, vive as diferenças no lugar de se isolar e temer a convivência com o diferente, tudo fica mais civilizado e, portanto, mais modal).
É a resposta mais simples que posso dar.
Não há razão de um salto Louboutin, smoking YSL, minissaia Quant quando estamos isolados numa comunidade amish ou numa cidade de 600 habitantes no Alaska ou no meio da selva amazônica. Eles são respostas a comportamentos de metrópole (e de um certo tipo de civilização – longe de ser necessariamente mais civilizada).
Moda é urbana por essência. E é esta razão, única e exclusiva, que fez necessária esse meu ofício: o jornalismo de moda.
Numa das minhas bíblias favoritas – a saber, Paris Fashion, a Cultural History – Valeria Steele (que é historiadora de moda e diretora do Museu do FIT, de NY) tem uma bela revisão do tema.
(livrinho este, de 1988, bem apropriado neste momento ano da França no Brasil para entender porque Paris é a mãe e pai da moda.)
Que vai, em livre tradução e resumo:
"O ano de 1715 marca o real começo do século 18, com um novo reinado na França, e um novo sentido de liberdade e de informalidade. As regras rígidas de etiqueta da corte (de Luís 14) estavam desaparecendo em consequência ao maior desenvolvimento de uma sociedade urbana mais aberta, caracterizada por salões onde mulheres e pessoas mais comuns eram bem-vindos.
Agora a moda não acontecia mais como 'cascata', despencando da corte (Versailles) para a cidade (Paris).
A moda estava nascendo na sociedade parisiense.
Ao mesmo tempo, a sociedade parisiense ainda se importava com a crença tradicional da corte em relação ao gosto e à arte _e à moda como expressão de individualidade.
A geografia da moda em Paris se concentrava na rue Saint-Honoré e mais tarde no Palais Royal.
Numa era em que o jornalismo de moda era rudimentar, bonecas grandes e perfeitamente vestidas eram enviadas de Paris para clientes e costureiras por todo o Ocidente até Constantinopla.
Estrangeiros – e até os parisienses – peregrinavam a este centro da moda em Paris: o Palais Royal era como uma microcidade dentro da cidade.
Londres e São Petersburgo estavam mais próximos de Paris do que o interior da França. A maioria das pessoas não usava roupas da moda. Porque a difusão da moda era limitada, a nobreza estrangeira e interiorana permanecia ligada a velhos hábitos e códigos de vestir por mais tempo do que a capital da capital da moda, o Palais Royal. Tradições regionais tinham mais importância do que as novidades vindas de Paris.
À medida que o jornalismo de moda se desenvolveu, ao longo do século 18, 'provincianos' ganharam mais acesso as modices de Paris e começaram a imitar os parisienses. Até Jean-Jacques Rousseau, o apóstolo da vida au naturel, notou o movimento: "A moda domina a província, mas os parisienses dominam a moda – e cada qual se dobra a ela à sua maneira. Os primeiros são copistas ignorantes e servis que reproduzem tudo. Até os erros de ortografia. Os outros são autores que copiam com autoridade e sabem como corrigir os erros."
Em 1761, Rousseau já descrevia a moda como um hábito das mulheres de Paris."
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4 comentários:
As calçadas devem respeitar nossos pisantes ultra-mega-fashion, né?
Beijos nossos,
Talvez seja essa sensibilidade a razão do seu trabalho ser tão inspirador pra mim! Olhar para os lados, para os outros, e vê-los... Acho que precisamos de mais gente assim!
Beijos!
Mais calçadas planas, mais árvores para aliviar o calor e mais estações de metrô. Vamos nos candidatar já!
eu tenho um ótimo plano pra revolucionar a cobrança do iptu de um jeito que mude o uso da cidade, incentivando a vida em comunidade/bairro! bjs
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