terça-feira, 21 de julho de 2009

Karl Lagerfeld dubla Fabu, o malvado do Totally Spies!

(Razões pelas quais eu amo os franceses – e Lagerfeld! )

Autoretrato como Lagerfeld-Fabu!



Fabu, o personagem malvado dublado por Lagerfeld


Trailler do filme animado que estreia amanhã, dia 22, na França:

Do Le Figaro, por Elisabeth Quin

Eleito o modelo mais malvado do mundo, enfeitado como um neoromântico dos anos 1980s, Fabu quer explodir a Terra com um arsenal de guerra digno da Coreia do Norte.

A gente imagina a felicidade de Karl Lagerfeld quando o convidaram a dublar este personagem de desenho animado.

A novidade o anima. O cinema o interessa cada vez mais. E o homem que pretende tirar as cordinhas de sua própria marionete encontrou uma (nova) ocasião de brincar com a sua imagem, essa máscara de mármore que pode bem dissimular uma gentileza sem igual...


Madame Figaro – Fabu parece mais bobo do que mau...

Karl Lagerfeld – É incontrolável, manipulador, cínico, um pouco como o tipo que diz ter vencido as eleições no Irã. Todas as formas de comportamento de um ditador que metem medo nas almas, não?

Madame Figaro – Fabu quer fazer o mundo se conformar à Fabutopia. Qualquer semelhança com a moda é mera coincidência?
Karl Lagerfeld – Desde que se conforme a mim, está ótimo! Odeio o conformismo. De qualquer forma, a palavra começa com c-o-n.

Madame Figaro – Cruzamos com energúmenos deste naipe – rudes, idiotas e malvados – na moda?
Karl Lagerfeld – Coitada, nós temos muito pior!

Madame Figaro – Qual foi o último livro que o senhor leu e que o deixou péssimo?
Karl Lagerfeld – L’Art d’être pauvre, de François Baudot, que eu folheei mais do que li. Foi o suficiente. Francamente, uma mulher sem dinheiro contando uma Paris que ela não conheceu além da sua portaria. Ele precisaria de 100 anos para ter conhecido as pessoas que ele finge ter conhecido, os Noailles e companhia.

Madame Figaro – Qual é o preconceito que mais o tira do sério?

Karl Lagerfeld – Detesto misoginia. Adoro Paul Léautaud, mas sua famosa frase "o que é uma mulher conveniente? Aquela que não mais convém", me causa repulsa. Além do mais, ele tem o corpo de um monstro!

Madame Figaro – Você mataria sua mãe por algo que ela dissesse?

Karl Lagerfeld – Minha querida, minha mãe me introduziu no universo do epigrama. Ela era genial, mas uma vaca! Você sabe (ele sussurra), eu jamais me esqueço das pessoas que fizeram eu me sentir miserável, mesmo que muito tempo tenha se passado.

Madame Figaro – Você não perdoa nada?

Karl Lagerfeld – Eu desconheço o perdão. Não tive uma educação religiosa.

Madame Figaro – A indiferença não é uma panacéia?

Karl Lagerfeld – Sim, mas não é preciso se privar de um pequeno jogo de palavras por causa dela. Se não vira uma chateação...

Madame Figaro – Quem é a pessoa mais malvada da moda? O senhor?

Karl Lagerfeld – Eu, madaminha (risos), sou pacífico como todos. Mas se me atacam eu posso esperar dez anos até encontrar a palavra certa e deixar a cortina cair. Essa é minha especialidade. Minha gentileza profunda, se é que ela existe, eu reservo aos meus íntimos. Não quero que pensem que tenho uma natureza bondosa. Sei perfeitamente me defender se me provocam!

Madame Figaro – Coco Chanel era má?
Karl Lagerfeld – Jamais com os homens! Ela era uma enroladora, uma encantadora sem igual, um tipo de Penélope Cruz. Por outro lado, Chanel detestava as mulheres, dizia que elas eram desonestas e desclassificadas. Tinha uma língua afiada, mas tinha contas a ajustar com a espécie humana: passar a infância num orfanato não deve ter sido nada fácil. Sem fazer psicologia barata, ela falava com os empregados como haviam falado com ela. Isso muito me choca: tratar com rudeza e maldade quem trabalha para ou depende de você. É muito fácil deixar isso acontecer! Eu não faço isso a não ser com meus iguais – ou superiores, se é que isso existe (sorriso de canto de boca).

Madame Figaro – O senhor não foi muito gentil com Audrey Tautou, que encarna Chanel no filme de Anne Fontaine e a propaganda do n5.
Karl Lagerfeld – Escute, eu não tenho que ser gentil com ela. Ela disse que o que amava mais sobre interpretar Chanel eram as galochas! Não tenho que defendê-la. É uma pena porque em 2001 Tautou era charmosa, delicada, tudo. Mas passados os 30 anos, é preciso deixar de ser fofa.

Madame Figaro – Você amou o filme Coco avant Chanel?
Karl Lagerfeld – Os dois atores são excelentes. Gosto muito de Anne Fontaine. Ela é muito francesa. Como Elizabeth Teisser, ela é bela e expressiva. Ela tem fogo próprio, não é Butagaz (marca de aquecedores a gás da França).

Madame Figaro – Proust disse: "O cúmulo da inteligência é a bondade".

Karl Lagerfeld – Sim, isso soa muito bem, mas quer dizer o quê? Para mim, a maldade é desculpável se for espiritual. Se ela é gratuita, é imperdoável.

Madame Figaro – Me dê um exemplo de maldade que o encanta.
Karl Lagerfeld – O bate-boca entre (a atriz e cantora) Yvonne Printemps e (o diretor) Sacha Guitry. Ele diz: "Vadia! Quando você morrer, vão escrever no seu túmulo: "enfim, fria!". Ela responde: "E sobre o seu escreveremos: enfim, teso!"


Yvonne Printemps e Sacha Guitry (no canto, à esquerda), por Édouard Vuillard (1917): parte do acervo do Masp

Madame Figaro – A gentileza o faz amolecer?
Karl Lagerfeld – Sim, desde que não seja por lisonja. A gentileza e as boas maneiras facilitam a vida. Se todos fossem iguais a mim, a vida seria mais fácil!

6 comentários:

Marília disse...

Sissi, incrível.... esse Lagerfeld não existe! não sabia dessa história das galochas... ponto a menos pra tautou, hein? BJS

Márcia Mesquita disse...

estou tendo que segurar o riso no trabalho, que MÁXIMOOOO
obrigada por traduzir pra gente!
bjsss

João Batista Jr. disse...

Nossa, quanta amargura do cara.

estiilo blog disse...

karl é muito GÊNIO! simone, e o fake karl, já conhece? http://fakekarl.blogspot.com/ quase tão gênio quanto!

Anônimo disse...

karl lagerfeld não foi feito para entender, apenas para se admirar!

CELINE disse...

Gosto de Lagerfeld-estilista-, detesto Lagerfeld- pessoa ! Não sei como alguém atura essa criatura. Um reizinho,afetada, mimada e mal amada. Fala de misoginia, mas ele mesmo tem preconceito contra as mulheres, quando declara que depois dos 30 .....Enfim, um chato, metido a intelectual, com conteúdo de orelha de livro. Devia ficar calado, e continuar a trabalhar.