Erté, reabilitado (pelo menos, por - e para - mim!)

(em tempo, a Harper´s Bazaar comemora 140 anos agora!)

Carmel Snow chegou chegando na Harper´s Bazaar. Imagine uma editora de moda ultracriativa e cheia de personalidade, abafada pela diretora de redação da Vogue, Edna Chase - esta um gênio, claro, mas narcísico -, sendo convidada para trabalhar na revista por ninguém menos que o dono da editora, William Hearst. Enfim, era o prestígio máximo e Carmel iria agarrar a chance para transformar a Bazar (na época, com um 'a' só) em concorrente número 1 da Vogue América. Junto com o diretor de arte Alexey Brodovitch, Carmel é responsável pela primeira revista com cara de século 20 no século 20. Tinha vida, tinha loucura, tinha novidade, tinha realidade, tinha fantasia.
Quando ela chegou à redação, as capas eram ilustradas por Erté, pseudônimo de Romain de Tirtoff. Nascido em São Petersburgo e envernizado em Paris a partir de 1912, Erté colaborou com ninguém menos do que Paul Poiret antes de entrar para a Harper´s Bazaar. "Seu amor pela cor e seus designs elaborados de couture colocaram a revista na linha de frente da inovação criativa", diz uma página dedicada a ele numa das edições deste ano, parte da retrospectiva dos 140 anos bazaarianos. E continua: "Erté also crafted scenery and costumes for stage productions like Folies Bergère in Paris and, at age 97, the 1990 revival of Broadway musical Stardust. Early in his Bazaar career, critics felt that the masses would never understand his over-the-top creations. However, as he turned out velvet evening wraps with Asian sleeves and gold embroidery,as well as gowns encrusted with stones and pearls, his vision became au courant and the public embraced his genius. Decades later, his style still inspires many, as proved by Yves Saint Laurent´s 1976 Ballets Russes collection, with its rich brocades and flowing skirts, and now the dramatic flourishes at Oscar de la Renta".
O que o texto não conta é que uma das primeiras providências de Snow para modernizar a revista foi riscar Erté da capa da Bazaar. "All the Bazaar covers were stylized drawings by an "artist" named Erté whom I proposed to dispense with at once", diz ela, na autobiografia The World of Carmel Snow (1962).
Fez certo, sem dúvida - sinal dos tempos. Mas Erté é um ilustrador ímpar e eu simplesmente venero seu traço/suas idéias. Quem puder catar um livro fantástico que a Nova Fronteira publicou aqui na década de 1970 deve fazer já: Erté, com texto de Roland Barthes - traz as letras do alfabeto 'escritas' com corpos femininos e de fadas. Um sonho!